Há um movimento claro e franco buscando meios de se estabelecer dentro das igrejas evangélicas pregando a premissa de que a homossexualidade não é reprovada pela Bíblia Sagrada. As afirmações mais recentes vieram de um religioso que lidera uma igreja inclusiva e de um drag queen que se diz evangélico.
Marcos Gladstone, advogado e fundador – ao lado de seu companheiro, Fábio Inácio – da Igreja Cristã Contemporânea (ICC), uma instituição que adota a chamada “teologia inclusiva”, afirmou que a Bíblia Sagrada não condena a homossexualidade, e que o problema se dá no campo interpretativo.
“O cristianismo é a religião da palavra escrita. Porém, o problema não é o conteúdo da Bíblia. O maior problema é a interpretação deste conteúdo. Muitas traduções foram feitas de forma tendenciosa, para incluir a comunidade LGBTQI+ em termos de condenação. Até a Idade Média, a palavra ‘sodomita’, por exemplo, não se referia aos homossexuais, e sim, àquele que não repartia o pão e não era solidário com o seu irmão”, disse Gladstone.
O líder religioso afirma categoricamente que os textos do Antigo e Novo testamentos que a tradição cristã milenar aponta como uma reprovação da homossexualidade (algo em comum entre as três religiões chamadas abraâmicas) não querem dizer o que dizem.
“A Bíblia nunca condenou a homossexualidade e nem a relação entre duas pessoas do mesmo sexo, se a relação é de amor. O que a Bíblia condenou foi o sistema de promiscuidade que havia em Roma, onde não havia afeto e amor nessas relações, mas sim, o sexo pelo sexo com qualquer pessoa e de qualquer forma”, argumentou.
Teologia liberal
Há poucos meses, o pastor e ativista de esquerda Ed René Kivitz veio a público afirmar que não se poderia condenar os homossexuais por considerar a Bíblia “insuficiente”.
Em sua defesa de uma releitura das Escrituras, o dirigente da Igreja Batista de Água Branca (IBAB) não negou que esses textos de reprovação existam, mas disse considerá-los inadequados para que os cristãos do século XXI mantenham a postura que vem sendo adotada há milênios.
Na instituição de Gladstone, não há pregação que busque convencer o pecador a se arrepender, ele admite: “A ICC surgiu a partir de uma necessidade pessoal minha, já que a igreja evangélica que eu frequentava não conseguia me dar as respostas que eu precisava quanto à minha sexualidade. Sempre que se falava em homossexualidade, a resposta era ‘vão para o inferno’, o que me fez ver que, ser um LGBT cristão dentro daquele conceito era impossível. Se eu não sou bem-vindo em um determinado lugar, por que continuar frequentando esse ambiente?”.
Essa característica antropocêntrica, que coloca o homem no lugar que deveria ser de Cristo, é a mais marcante do movimento de teologia liberal, amplamente presente em igrejas protestantes históricas, como Metodista e Anglicana, por exemplo.
O drag queen Sophia Barclay, que diz ter passado com instituições como a Congregação Cristã no Brasil (CCB) e Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), disse ao portal de esquerda Brasil 247 que “muitos acreditam, equivocadamente, que ser homossexual é uma escolha”.
“Não escolhemos nascer assim. Nós sofremos preconceito em todos os lugares. Dentro de uma igreja, no supermercado, na escola, na família e, em todo canto que a gente esteja, estamos sendo vítimas de alguma piadinha e tem pessoas cochichando a nosso respeito. Em questão de religião, o que vale é a fé. E a palavra de Deus diz ‘venha como estás’. Então, independentemente de sua aparência e sexualidade, Deus ama a todos que se entregam a ele de coração”, declarou.
Divergências
Barclay diz ser contra a criação de instituições religiosas exclusivas para homossexuais, pois entende que todas as igrejas cristãs devem se curvar à militância LGBT, deixando de pregar o que a Bíblia diz sobre o tema. Sua premissa para impor uma mudança tão radical parte de uma situação de desrespeito que nada tem a ver com doutrina.
“Desde 2015 frequentava a Igreja Universal e sempre deixei claro que era homossexual. Antes havia frequentado a Congregação Cristã do Brasil, uma igreja muito rígida. No final do ano passado, durante um culto na Universal, eu e meu amigo, também homossexual, fomos impedidos de usar o banheiro da igreja”, introduziu.
“Os seguranças debocharam da nossa orientação homossexual e começaram a me chamar de ‘senhora’ em tom irônico, alegando que nós não éramos membros e, portanto, não poderíamos usar o banheiro. Eu disse que era membro e deveria ser tratada como todos os outros. Durante todo o culto, sofri assédios por parte dos obreiros. Alguns até me deram ‘cantadas’ dentro da igreja. E eu queria registrar aqui que os seguranças de lá trabalham armados e eu já presenciei eles apontando uma arma para um morador de rua, que apenas foi pedir um copo de água na igreja”, acusou.