O pastor Ed René Kivitz se tornou alvo de intensas críticas por uma pregação em que classifica a Bíblia Sagrada como “insuficiente”, para em seguida, defender a compreensão de que a homossexualidade deve ser abraçada pela igreja evangélica. Em resposta, o movimento Coalizão pelo Evangelho repudiou a afirmação.
Em um sermão chamado “Cartas vivas contra letras mortas”, o pastor da Igreja Batista de Água Branca (IBAB) não mediu palavras para dizer que enxerga a Bíblia Sagrada como um livro de texto insuficiente para compreender o mundo contemporâneo.
“Eu leio essa carta de Paulo a Filemom e eu penso da seguinte maneira: ela é insuficiente para mim. Talvez esse é o grande desafio da igreja contemporânea: olhar a Bíblia como um livro insuficiente. Vou repetir: olhar a Bíblia como um livro insuficiente, um livro que precisa ser relido, ressignificado, para que os princípios de vida que esse livro encerra, e que essa revelação encerra, eles saltem dessas páginas promovendo libertação e justiça e relações de amor no nosso mundo”, disse.
Conhecido por sua militância ideológica de esquerda nas redes sociais, e por ter sido um dos pioneiros do movimento da Missão Integral, ao lado de Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz afirmou que “a ética bíblica reflete uma estrutura de sociedade daquele tempo, daquele mundo, daquela época”, que por isso, não pode ser parâmetro para os dias atuais.
“Não dá para a gente pegar um texto que foi escrito quatro mil anos antes, três mil anos, dois mil anos e trazer para hoje aplicando literalmente o que esse texto está dizendo, sem perceber que nas suas linhas a Bíblia é insuficiente, mas nas suas entrelinhas, a respeito da revelação que traz do Cristo ressurreto, a Bíblia explode promovendo uma grande revolução e uma grande transformação no mundo”, acrescentou o pastor.
Em seguida, ele propõe que uma mudança interpretativa seja feita: “A gente precisa atualizar a Bíblia, porque se eu não atualizo a Bíblia e se eu leio literalmente a Bíblia e digo ‘está suficiente a leitura literal da Escritura’ eu legitimo escravidão. Tem gente, ainda hoje, legitimando o machismo dizendo que o ‘marido é o cabeça da mulher e a mulher tem que ser submissa’… e não leu direito a Escritura, não atualizou a Escritura”.
Todo o discurso apresentado por Ed René culminou com uma afirmação alinhada ao liberalismo teológico que vem crescendo no meio evangélico: “Vamos ter que fazer essa atualização e ter essa coragem de enfrentar os pecados de gênero da nossa sociedade. De enfrentar a questão da homossexualidade, da homoafetividade e dos gays que frequentam as nossas comunidades, estão dentro das nossas comunidades, mas continuam sendo condenados ao inferno por causa de dois ou três textos bíblicos que não foram atualizados”.
Resposta
O pastor Paulo Valle, da Igreja Batista do Redentor, em Volta Redonda (RJ) e professor de Grego e Novo Testamento no Seminário Martin Bucer, publicou artigo no site da Coalizão Pelo Evangelho afirmando que a pregação de Ed René Kivitz “contrariam o grande lastro histórico da fé cristã”
“O problema de Kivitz está em sua hermenêutica e esse é o ponto a ser destacado. Levando-se em conta tantas outras declarações polêmicas ao longo dos últimos anos, percebe-se seu liberalismo teológico que, em seu fundamento, não crê que a Bíblia seja a palavra de Deus revelada aos homens, mas o resultado das percepções teológicas de um tempo que ficou para trás e, por isso, deve ser atualizada”, contextualizou.
Valle diz que “o problema não se encontra no dever de defender a dignidade humana”, mesmo que essas bandeiras sejam usadas para atacar cristãos conservadores “como preconceituosos, com todos os adjetivos que as causas das minorias estabelecem”.
“As hermenêuticas das minorias pressupõem que a causa do problema é, exclusivamente, de caráter social, e não individual. Sendo assim, a sociedade deveria, se necessário com a ajuda do Estado, mudar em relação às minorias. Nesse caso, em uma perspectiva cristã histórica, não deveria ser o homossexual a mudar, arrependendo-se de sua condição diante de Deus, mas a sociedade”, exemplificou o pastor.
A proposta de “releitura das Escrituras à luz de uma atualização de seu ensino às realidades atuais” feita por Ed René Kiviz é, segundo Valle, “compreensível, mas não aceitável”, já que ela termina por tentar negar a Palavra de Deus: “Não podendo desconstruir as bases da leitura literal da Bíblia, fundamento da Teologia Bíblica, apela à persuasão ad scripturam, isto é, se não é possível derrubar os argumentos das Escrituras, ataque-as, mesmo que sutilmente. E isso é o que ele faz”.
“Conhecer as Escrituras e os pressupostos das minorias logo nos levará à condição de uma necessária escolha entre uma e outra. Se optarmos pelo evangelho, não precisaremos do discursos ideológicos das minorias, mas se optarmos pelas ideologias das minorias, teremos abandonado o evangelho. O evangelho une, pois todos os homens estão na mesma condição diante de Deus e, em Cristo, retornam à essência do que é ser humano. Já as hermenêuticas das minorias separam”, concluiu Paulo Valle.
Pregue a suficiência da Palavra e tu mostrarás tua insuficiência; pregue a insuficiência da Palavra e tu mostrarás não somente tua insuficiência, mas também tua miséria.
— Jonas Madureira (@JonasMadureira) October 28, 2020