O jornalista Chico Pinheiro, apresentador do telejornal Bom Dia Brasil, da TV Globo, ironizou o slogan da campanha de Jair Bolsonaro. Afeito aos princípios da ideologia de esquerda, comentou a participação do presidente eleito em uma sessão solene em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal dizendo “Brasil acima de tudo, Constituição acima de todos”.
A alfinetada foi ao ar na última terça-feira, 06 de novembro, enquanto o jornalista chamava a correspondente da emissora em Brasília, Giuliana Morrone, durante o telejornal.
Chico Pinheiro, que já teve áudio vazado com exaltação a Lula (PT) após sua prisão por condenação em segunda instância por crime de lavagem de dinheiro e corrupção, se junta a outros jornalistas do Grupo Globo, que tentam contrapor o maciço apoio popular recebido por Bolsonaro nas urnas.
Na noite do domingo de eleição, 28 de outubro, após a confirmação da eleição de Jair Bolsonaro, Miriam Leitão voltou a ser assunto nas redes sociais e veículos de comunicação na internet por dizer, durante a cobertura da Globo News do primeiro pronunciamento do presidente, que a oração conduzida pelo senador Magno Malta (PR-ES) causava “preocupação”.
“O Estado brasileiro é laico. Um grupo de cristãos… Aquilo [a roda de oração] cria um pouco de preocupação. O compromisso de um estado laico é fundamental. É conquista da reforma protestante, inclusive. Separar Estado de Igreja é fundamental”, disse a jornalista na ocasião.
Estado laico
Com o país amplamente acostumado a uma ditadura informal da filosofia politicamente correta, muitos têm estranhado as constantes manifestações de fé do presidente eleito. A jornalista Madeleine Lacsko, do jornal Gazeta do Povo, entrevistou Jean Marques Regina, coautor do livro Direito Religioso, e o questionou sobre esse comportamento de Jair Bolsonaro.
Jean Marques Regina pontua que não houve nenhuma ofensa ao princípio de Estado laico na celebração da vitória de Bolsonaro: “Foi uma manifestação de fé, ela teve uma oração antes mesmo de ele proferir o discurso da vitória, né? […] Eles fizeram esse momento de oração, teve ainda algumas palavras ditas e depois ele falou: ‘vou ler o meu discurso da vitória’. Ou seja, não houve aí um ato de Estado, houve aí a manifestação do Bolsonaro católico, delegando para um senador evangélico que liderasse a oração antes da sua manifestação como político. O que houve aí foi o coroamento dessa liberdade tão fundamental que é a liberdade de expressar a sua fé num momento público, na arena pública”, comentou o especialista.
Thiago Rafael Vieira, parceiro de Regina na produção do livro – que será lançado no próximo dia 21 de novembro -, se aprofundou no tema: “A nossa Constituição, como é que ela começa? No preâmbulo. E o que é que o preâmbulo diz? Nós, representantes do povo brasileiro – pontinhos, pontinhos, pontinhos – sob a proteção de DEUS, com D maiúsculo, promulgamos a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. O próprio texto constitucional, que é o documento legal mais importante da nação brasileira, parafraseando o Cabo Daciolo, ele começa para a honra e glória do Senhor Jesus”, recapitulou.
A própria jornalista apontou uma resposta, resumida, para a pergunta “o que é, afinal, Estado Laico?”. Segundo Madeleine Lackso, “os justiceiros sociais de internet dão duplo twist carpado de indignação quando qualquer agente público menciona Deus em espaço público ou durante o exercício da função”.
“A simples menção à própria fé é considerada violação da laicidade do Estado. Pode ser moda exigir que se esconda a fé no espaço público, mas não tem nenhuma relação com o conceito de Estado Laico e é uma violação de Direitos Humanos. Muitas palavras e expressões que usamos atualmente têm seu significado torcido de tal forma que vai parar no lado oposto do original. Estado Laico, tal como se começou a idealizar há 501 anos na Reforma Protestante, é aquele que dá total liberdade religiosa a seus cidadãos. Quando se confunde este conceito com o de Estado Ateu, ele passa a ser o oposto, o que proíbe qualquer tipo de religiosidade”, constatou.
Vieira, que é advogado, corrobora a visão da jornalista sobre as mudanças de sentido que se pretendem com a militância progressista: “Estado Laico é o Estado não se imiscuindo na ordem espiritual, é o Estado não professando uma fé, isso é laicidade. O Estado garantindo que todos professem sua fé. Então, tem uma ressignificação de conceitos como tem o termo debate. Vamos fazer um debate sobre aborto e tem 10 pessoas pró-aborto. Que debate é esse?”, pontuou.
“Não é de hoje que existe uma ressignificação de conceitos, uma destruição de conceitos. Mario Ferreira dos Santos, no livro Invasão dos Bárbaros, lá na década de 60, já profetizava isso. George Orwell no livro 1984 também já profetizou isso: uma mudança de significados em conceitos tão caros para nós, como é o caso de Estado Laico”, concluiu Vieira.
Confira o áudio de Chico Pinheiro em defesa de Lula: