Pregar o evangelho de Jesus Cristo é dever de todo cristão, mas isso é algo difícil quando não conseguimos nos comunicar e transmitir o ensino das Escrituras Sagradas adequadamente. Para superar essa barreira, a Sociedade Bíblica do Brasil fez mais uma tradução, dessa vez, do evangelho de Lucas para o idioma “Calon”.
Também conhecida como “chibi”, a língua Calon é falada por cerca de 600 mil ciganos brasileiros. “Nosso povo chegou ao País em 1574, oriundo de Portugal”, disse o missionário Antonio Alves Pereira, coordenador do projeto de tradução.
“Infelizmente, chegamos aqui involuntariamente, expulsos pela Coroa Portuguesa, que criminalizava nossa identidade étnica, considerando todo aquele que se identificava (ou era identificado) como ‘cigano’ como uma ‘praga’ a ser combatida”, acrescenta.
Antonio explica que por conta disso os ciganos enfrentam muito preconceito, por conta das suas origens. “Desde o início, enfrentamos muita discriminação e humilhação, sendo marcados por estereótipos que impediam a nossa interação com os moradores da nova colônia”, destaca Antonio, segundo informações da Sociedade Bíblica do Brasil.
O missionário também relata que o idioma Calon ajudou muito seus ancestrais contra os perseguidores, já que apenas eles falavam a língua. A tradução de Lucas para o idioma nativo do seu povo reforça essa identidade cultural, porém, no sentido de ampliar a capacidade de evangelismo entre eles, preservando algo importante para o grupo.
“Entendemos que a unidade do nosso povo seria o único caminho para a sobrevivência. Um dos elementos que mais nos uniu e nos serviu como proteção foi nossa língua, que uma vez falada próximo dos perseguidores nos dava vantagem de fuga, quando nos sentíamos acuados. Com essa função protetiva, a chibi foi considerada uma dádiva divina exclusiva dos ciganos e, portanto, proibida para não ciganos”, disse o missionário.
O evangelho de Lucas traduzido para o idioma cigano foi apresentado recentemente na Igreja Cigana de Itapevi, em São Paulo, durante um culto de celebração ao Senhor. Com edição da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o livreto integra o Projeto Bíblia Cigana, desenvolvido pela Missão Amigos dos Ciganos (MACI).