Um pastor presbiteriano está no centro da retomada do conservadorismo na Coreia do Sul, e por consequência, o campo político do país está sofrendo alterações.
O reverendo Jun Kwang-hoon, 63 anos, tem liderado multidões em eventos realizados em praça pública, denunciando excessos do presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Recentemente, o ministro da Justiça, Cho Kuk, renunciou ao cargo devido à pressão que o movimento popular liderado pelo pastor fez sobre o governo.
De acordo com informações do jornal The New York Times, o pastor Jun vem pedindo a renúncia do presidente em suas manifestações mais recentes por conta do avanço bélico da Coreia do Norte e pela economia trôpega do país.
Como toda liderança que alcança status de influência política, o pastor Jun vem sendo tratado como “falso profeta” pelos adversários, que também o acusam de demagogia e vaidade. Por outro lado, seus apoiadores e entusiastas dizem que ele combina a “liderança de Moisés e a sabedoria de Salomão”.
Jun Kwang-hoon tem uma estratégia comum aos líderes ocidentais que venceram eleições recentemente, como o presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Se vale de slogans e frases de efeito (Trump incutiu o “make America great again” na memória dos eleitores, da mesma forma que Bolsonaro emplacou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).
Em suas manifestações públicas, o pastor usa frases curtas e de fácil memorização para destacar aos cidadãos a necessidade de contestar a grande mídia do país, defender o patriotismo e as tradições do povo sul-coreano. Ele também age contra as políticas do presidente Moon, acusando-o de estar “comunizando” o país e levando-o “à ruína”.
Para o pastor, o presidente atual da Coreia do Sul se afastou dos Estados Unidos, aliado político, econômico e militar há décadas, e se aproximou dos comunistas China e Coreia do Norte. Jun Kwang-hoon sempre exalta o temor a Deus como algo que pode impedir o “colapso” do país.
De acordo com a jornalista Choe Sang-Hun, correspondente do NYT, “nos últimos meses, o pastor provocou um incêndio político explorando dois sentimentos fortes: o medo da Coreia do Norte, que é muito difundido entre os sul-coreanos mais velhos, e o crescente descontentamento com a economia fragilizada”.
Inicialmente, o presidente Moon não deu valor ao movimento popular liderado pelo pastor, afirmando que se tratava de algo “não digno de comentários”. Esse menosprezo fez crescerem as manifestações, e em resposta, o governo mandou investigar Jun acusando-o de sedição por encorajar o povo a seguir os “mártires” que tentavam fazer o presidente renunciar.
“Os seus comícios talvez não agradem aos não cristãos porque parecem reuniões para o renascimento da Igreja, e algumas das suas declarações, como a de que Moon é um espião norte-coreano, soam exageradas e propagandistas”, comentou Hwang Gui-hag, editor chefe do Law Times de Seul. “Mas ocorre que a sua estratégia funciona, o que o torna uma força que não pode ser ignorada”, ponderou.
O pastor que fez ressurgir o movimento conservador na Coreia do Sul tem convicção de que a Igreja pode servir como um instrumento de mudança social e política, e atua nesse conceito desde a época em que era um jovem seminarista: “Ao longo de toda a sua história, a Igreja sempre foi uma organização política”, afirmou Jun, logo após ser eleito, em janeiro, chefe do Conselho Cristão da Coreia, grupo representativo das igrejas conservadoras.
No entanto, o pastor não é figura unânime no meio evangélico da Coreia do Sul: o Conselho Nacional das Igrejas da Coreia o acusa de provocar “histeria coletiva” a quem comparece às suas manifestações, que já são consideradas “os maiores protestos contra o governo que a Coreia do Sul jamais viu”, segundo descreveu a jornalista Sang-Hun.
O próximo passo do pastor presbiteriano é transformar o movimento Christian Liberty Party no primeiro partido político fundamentado na fé cristã, e assim, conseguir cadeiras no Parlamento nacional. Em sua defesa, o pastor afirma que tudo que vem ocorrendo “é obra do Espírito Santo”, já que ele não teria capacidade de mobilizar os cidadãos por suas próprias forças: “Não sou eu, é a revolta da população contra Moon que a leva aos meus comícios”