O testemunho desesperador do único sobrevivente de uma chacina na Bahia revela momentos de pânico vivenciados pela vítima, que por segurança preferiu não se identificar. O crime ocorreu na sexta-feira 13, todos os mortos eram motoristas dos aplicativos Uber e 99.
Segundo informações da Polícia Militar, os motoristas identificados como Alisson Silva Damascena dos Santos, 27, Daniel Santos da Silva, 30, Genivaldo da Silva Félix, 48, e Sávio da Silva Dias, 23, foram torturados e assassinadas a golpes de facão na rua do Nepal, na comunidade Paz e Vida.
Antes de chegar ao local, às vítimas receberam o chamado no celular de supostos passageiros, duas travestis. Quando chegaram, os motoristas foram rendidos e levados para um barraco nas proximidades, onde foram amarrados e mortos.
Informações preliminares dão conta de que a morte dos motoristas foi uma forma de retaliação de um traficante local, pelo simples fato da sua mãe ter tido uma viagem de aplicativo cancelada.
Chacina na Bahia: o sobrevivente
O único sobrevivente da chacina na Bahia disse que durante um momento de conversa dos criminosos pediu para falar com Deus, o que lhe foi permitido.
“Perguntei: ‘Eu posso falar com Deus?’. Ele falou ‘pode’, aí foi o momento que eu falei: ‘O Senhor é o Deus das causas impossíveis, eu estou no laço do passarinheiro, me tira do laço do passarinheiro, eleva meus olhos para os montes de um onde vem meu socorro, vem do Senhor que veio do céu e da terra’. E quando chegou no final da oração do salmo 121, o rapaz [suspeito] colocou a pistola em cima da geladeira para pegar o morto [uma das vítimas]”, disse em entrevista à TV Bahia.
Durante a oração do sobrevivente, o motorista Genivaldo da Silva Félix reagiu na tentativa de pegar a arma de um dos criminosos, o que deu tempo para que o outro motorista se livrasse das cordas.
“Quando [o suspeito] foi pegar o morto, esse senhor de 48 anos levantou correndo e pegou a pistola, quando ele pegou a pistola eles [os suspeitos] empurraram os paletes, que a cerca era palete, e tentaram pegar a pistola [da mão do motorista], foi o momento que eu saí das amarrações, puxei a do pé e saí só com o da boca”, disse o sobrevivente.
Desesperado para se livrar do local onde ocorreu a chacina na Bahia, o sobrevivente pulou em um barranco e terminou caindo em um poço de lama. “Eu não conseguia sair andando, porque a lama estava até o peito”, disse ele, segundo o UOL.
“Então, eu segurava na árvore e rastejava, só que quando eu segurava, a árvore balançava e então eles atiravam na direção da árvore que estava balançando”, completou.
Segundo a vítima, ele só conseguiu escapar após se arrastar pela lama até a proximidade de um presídio, onde cães começaram a latir, chamando atenção dos seguranças.
“Quando eu cheguei no final [do barranco], eu vi os cachorros latindo e Deus falando: ‘Os cachorros vão ser sua salvação, porque com certeza o segurança vai ouvir os cachorros latindo’. Quando eu cheguei próximo aos cachorros latindo já era a parte de cima em plano e não aguentava andar e Deus falava: ‘Levante que você vai voltar para casa, use toda a força que você tem’”, contou.
Os seguranças do presídio então resgataram o motorista, foi só nesse momento que ele conseguiu dobrar os joelhos e agradecer a Deus por ter lhe livrado da chacina na Bahia que chorou a região.
“Foi o momento que primeiro eu ouvi os gritos, quando estava subindo e depois eu ouvi os tiros. Eu falei, eles estão matando os meus amigos. Eles me sequestraram, aí foi que o segurança me levou para a portaria, chamou apoio, aí a polícia chegou, foi o momento que eu dobrei o meu joelho e agradeci a Deus, que só Deus das causas impossíveis pode me salvar”, afirmou.