Um líder religioso muçulmano no norte da Nigéria teria se manifestado em apoio ao assassinato de uma jovem estudante cristã por falsas acusações de que ela teria cometido blasfêmia contra Maomé.
Sob a lei islâmica, a blasfêmia é um pecado punível com a morte. A jovem Deborah Emmanuel Yakubu foi fatalmente espancada e queimada na quinta-feira da semana passada, 12 de maio.
Seus colegas de universidade a acusaram de enviar mensagens blasfemas em um grupo de WhatsApp depois de se recusar a namorar um rapaz muçulmano e se queixar da distribuição de tarefas aos alunos cristãos.
Um vídeo que traz cenas descritas como o momento em que a estudante cristã foi assassinada mostra uma multidão enfurecida vandalizando carros e outros alvos enquanto gritava “Allahu akbar” (“Alá é grande, em árabe”), enquanto o corpo da jovem é queimado debaixo de uma pilha de objetos.
Bello Yabo, um clérigo islâmico no estado nigeriano de Sokoto, pediu aos muçulmanos que matassem qualquer pessoa que “insultasse o profeta”, de acordo com a entidade de monitoramento da perseguição religiosa International Christian Concern (ICC).
O relatório do ICC não nomeou o clérigo, mas a reportagem do portal The Christian Post contatou a entidade e ouviu de um porta-voz que sua equipe de campo confirmou que as declarações partiram de Yabo.
A tradução da ICC sobre as declarações de Yabo diz:
“Uma jovem em Sokoto insultou o profeta de Alá ontem. Em Sokoto matamos tal. Não toleramos tal idiotice em Sokoto. Isso não é Kano, que é um centro comercial, onde alguém chamou os nomes dos profetas, inclusive sendo adúltero. Eles têm se arrastado sobre isso.
Aqui nós matamos. Quando você toca o profeta nos tornamos loucos. Nenhuma conversa de uma pessoa pode estar fora de sua mente. Mate ele! Quem tocar no profeta, sem punição, apenas mate! Mesmo se a pessoa se arrepender ou se retratar, o perdão é assunto de Deus. Devemos matar tal. Enlouquece, mas compra um aparelho, [pacote de] dados, abre redes sociais e insulta o profeta? Mate ele! Não denuncie como uma queixa a nenhuma autoridade. Mate ele! Mesmo que ele seja um professor islâmico, muito menos um patife inútil.
Como Shehu Usman Dan Fodio, somos Mujahedeen (guerreiros sagrados) e jihadistas.
Sem compromisso. Allah amaldiçoe quem tocar no profeta. Aqueles de vocês que demonstraram sua ira, Allah os abençoe. Matem e dispersem!”
Cruz
A estudante cristã aluna da Shehu Shagari College of Education e membro da denominação Evangelical Church Winning All (ECWA). Ela foi acusada de enviar uma mensagem para um grupo de WhatsApp da escola que seus colegas interpretaram como blasfêmia.
“Deborah Emmanuel estava reclamando em um bate-papo em grupo do WhatsApp, criticando como eles discriminam os cristãos na escola em áreas de tarefas e testes em favor dos muçulmanos”, disse um pastor local.
“Isso é o que eles usaram como parâmetro para dizer que ela insultou Maomé. Ela não insultou o profeta Maomé, mas foi descoberto que ela recusou uma proposta de um muçulmano para sair com ela. Isso os levou a acusá-la de insultar o profeta Maomé”, acrescentou o pastor.
O pai de Yakubu, Emmanuel Garba, disse aos meios de comunicação locais que a morte violenta de sua filha foi “um ato de Deus”, e que sua família está procurando respostas após a tragédia.
“Não podemos dizer ou fazer nada, exceto relaxar como um ato de Deus. Deixamos tudo para Deus, decidimos levar as coisas assim”, disse ele, revelando ter gasto quase US$ 300 para transportar o cadáver de sua filha de volta para Tungan Magajiya, na área do governo local de Rijau, no estado do Níger, para que pudesse enterra-la.
Sua mãe, Alheri Emmanuel, disse a repórteres que nenhum dos sete filhos sobreviventes da família iria à escola novamente para evitar mais tragédias: “O que aconteceu comigo é a minha cruz, e certamente a carregarei, mas nenhum dos meus sete filhos sobreviventes voltará à escola”, disse ela.