“A mudança é de dentro pra fora”, afirmou Juliana Ferron, que concedeu uma entrevista em meio a uma série de reportagens do Fantástico onde casos de transgêneros são expostos na mídia de forma tendenciosa, sem abordar a complexidade da questão de forma imparcial e científica, mas apenas por um viés político-ideológico.
A psicóloga Marisa Lobo apresentou em seu programa de entrevista semanal no YouTube uma ex-transgênero, Juliana Ferron, autora do livro Cansei de Ser Gay, contrariando, assim, a concepção “politicamente correta” sobre o tema.
Com pouco mais de uma hora de duração, a entrevista com a ex-transgênero Juliana Ferron, que também é teóloga e palestrante, está repercutindo rapidamente, chamando atenção pelo fato de a grande mídia praticamente não revelar pessoas que declaram ter mudado de orientação sexual e/ou de identidade de gênero, muito embora seja uma realidade bastante conhecida, que psicólogos como Marisa Lobo pedem respeito e compreensão na mesma proporção com que devem ser tratados, também, a comunidade LGBT.
LGBT que ‘realmente acreditava na causa’
Durante a entrevista Juliana Ferron falou sobre alguns motivos que a levaram militar em prol do movimento LGBT e feminista. “Eu fiquei 12 anos vivendo na homossexualidade”, disse ela.
“Desses 12 anos eu promovia festas para o movimento LGBT da cidade em que eu morava”, deixando claro que “eu realmente acreditava na causa”, e que “…acreditava ter nascido homossexual e acreditava que aquela era a minha vida, meu universo, meu mundo e não havia outro”.
Para Juliana, ter se tornado uma ativista LGBT não foi o que determinou o que, até então, para ela, era o motivo da sua homossexualidade, mas sim questões “internas” que ela chamou de “confusão de gênero” e “uma confusão de identidade, uma confusão de desejos”, disse ela.
Nesse momento, a Psicóloga Marisa Lobo ressaltou a diferença entre a orientação sexual homossexual da “transgeneridade”, abordando, nesse caso, a confusão de gênero como algo que pode ser resultado de uma “disforia de gênero”, também conhecida como “transtorno da identidade de gênero”, isto é; quando a pessoa sente um desconforto persistente com o sexo biológico, tendo dificuldade de se adequar ao gênero associado a ele na sociedade (masculino ou feminino).
Juliana disse que anos atrás não conhecia o termo “transgênero”, por isso se identificava como homossexual; “Depois que eu estava na homossexualidade que eu fui entender, ou fui perceber, que eu estava no corpo errado, ai veio a confusão da minha identidade de gênero. Eu já estava na homossexualidade. Eu não me reconhecia mais como uma mulher”, disse ela.
Influência da mídia no tema transgênero
Conforme noticiamos a forma desonesta como a TV Globo vem tratando o tema sobre transgêneros no programa Fantástico, Juliana Ferron concorda com a influência negativa da mídia, porém, de modo geral. Perguntada por uma internauta sobre isso, ela disse:
“Quando você lida com a mentira, porque falar de ideologia de gênero é falar de mentira, você tem que encontrar um meio de convencer as pessoas, e eu acho que o que a gente está vendo hoje na mídia, nas novelas, é um convencimento pela comoção e não pela verdade. Então o público que está do outro lado se comove, óbvio, sem informação nenhuma, recebe aquela informação como verdadeira e toma um partido”, disse ela.
‘Família disfuncional’
Perguntada também por um internauta, dessa vez, sobre o que teria levado ela a desenvolver atração pelo mesmo sexo, Juliana Ferron atribuiu seu caso ao tipo de relação familiar que teve na infância, especialmente com seu pai e sua mãe:
“Essa pergunta é interessante. Eu descobri alguns fatores em comum. Eu identifiquei em mim alguns fatores, como por exemplo a ausência paterna, rejeição paterna, uma família ‘disfuncional’. Família disfuncional é palco para vulnerabilizar uma criança para qualquer disfunção. Eu acredito nisso”, disse Juliana, deixando claro que a explicação se trata do seu caso, não podendo generalizar.
“Mesmo porque estamos falando de você, da Juliana. Nós não estamos mostrando receitas para outras pessoas. Cada pessoa é uma pessoa. Cada pessoa é de um jeito”, enfatizou a psicóloga Marisa Lobo.
‘Mudança é de dentro pra fora’
O que levou Juliana a mudar sua concepção de identidade de gênero e de orientação sexual foi, segundo ela, compreender o que aconteceu com sua vida no passado, mais precisamente na infância, com sua mãe e seu pai. Perguntada se ela foi induzida a se converter ao evangelho por alguém, ela disse que não, mas que a conversão foi uma consequência.
A fala de Juliana Ferron quanto a isso é muito importante porque desmitifica algumas críticas, que afirmam existir “ex-gays” apenas por não aceitação social, por pressões da sociedade e pelo moralismo religioso. Ou seja, tais críticos alegam que os “ex-gays” são, na verdade, embustes, pessoas apenas adaptadas a uma condição cultural que não aceita determinada orientação sexual.
Tal argumento é, por si só, um julgamento generalizado acerca da condição humana e sua complexa relação com a sociedade, especialmente no que diz respeito à família. Na prática, afirmar que “ex-gays” ou “ex-trans” não existem, porque quaisquer motivos, é nada mais do que uma forma velada de induzir um preconceito contra a singularidade de cada sujeito, sua própria fala, seu testemunho e sua própria concepção de mundo. Portanto, um desrespeito a tais pessoas.
Por fim, Juliana afirmou que após compreender os motivos da sua “confusão de gênero”, pode mudar e buscar o que para ela passou a ser o caminho certo. Ela disse que antes “vegetava” e que parecia um “zumbi”, superando uma depressão que a fez compreender que a mudança é “de dentro para fora”.
Atualmente Juliana Ferron, que mora em Curitiba, é evangélica e dá palestras sobre sexualidade e assuntos correlacionados, especialmente em igrejas. Ela também possui um site pessoal com seu nome, onde disponibiliza o livro que conta em detalhes sua história de vida, chamado Cansei de Ser Gay.