Uma ONG sul-coreana disse ter identificado 318 locais na Coreia do Norte que foram usados pelo governo comunista para realizar execuções públicas, incluindo casos de cidadãos que foram mortos por causa de sua fé em Jesus Cristo.
A ONG, chamada Grupo de Trabalho da Justiça Transitória (“Transitional Justice Working Group” no original em inglês) entrevistou 610 norte-coreanos que fugiram do país ao longo dos últimos quatro anos para elaborar seu relatório.
Os pesquisadores da organização documentaram décadas de assassinatos, por crimes que vão desde roubar uma vaca até assistir a TV sul-coreana, segundo informações da emissora britânica BBC.
As execuções públicas ocorreram perto de rios, campos, mercados, escolas e campos esportivos, relatou o grupo de defesa dos Direitos Humanos. O governo comunista, comandado pelo ditador Kim Jong-Un, reunia multidões com mais de mil pessoas para assistir a essas execuções.
As informações detalhadas constam do relatório “Mapping the fate of the dead” (“Mapeando o destino dos mortos”, divulgado na terça-feira, em inglês (clique aqui para acessar o pdf). O documento produzido pela ONG aponta que os membros da família daqueles sentenciados à morte, incluindo crianças, muitas vezes foram forçados a assistir à execução.
Os corpos e locais de sepultamento dos mortos raramente eram dados aos seus parentes, e ainda segundo os relatos das testemunhas que fugiram do regime, a pessoa mais jovem a testemunhar um assassinato público tinha sete anos de idade.
Algumas execuções públicas também ocorrem dentro de instalações de detenção como prisões e campos de trabalho – onde pessoas condenadas por crimes políticos são forçadas a trabalhar manualmente, em atividades como mineração e extração de madeira.
Um dos norte-coreanos entrevistados contou que ficou preso em um campo de trabalho no início dos anos 2000 e descreveu a forma como 80 prisioneiros foram obrigados a assistir ao assassinato de três mulheres acusadas de tentar fugir para a China. Na ocasião, um funcionário do Ministério de Segurança Popular disse à multidão: “Isso pode acontecer com você”.
O relatório aponta que as execuções são “um método fundamental de incitar o medo e dissuadir os cidadãos de se engajarem em atividades consideradas indesejáveis pelo regime”.
Esquadrões de fuzilamento e enforcamento
A grande maioria das execuções acontece por fuzilamento, disseram os cidadãos que fugiram. Isso geralmente envolve três atiradores atirando três vezes cada no corpo da pessoa condenada.
Alguns entrevistados citaram ocasiões em que aqueles que executavam a execução pareciam estar embriagados. Um deles opinou que isso ocorre “porque matar é algo difícil de se fazer emocionalmente”.
Um pequeno número de enforcamentos públicos também foi relatado, embora a ONG tenha dito que eles pareciam ter sido reduzidos ou até parados desde 2005.
Ethan Shin, um dos autores do relatório, disse à Agência France Press (AFP) que “parece que o número de execuções públicas está em uma tendência de queda”, mas que o governo sediado em Pyongyang pode simplesmente estar operando com mais sigilo, “uma vez que busca o reconhecimento como um estado normal”.
Até altos funcionários norte-coreanos já foram executados no passado. Em 2013, o tio do líder norte-coreano Kim Jong-un foi condenado por traição. A BBC informou, à época, que o motivo da sentença seria o descumprimento de ordens e o fato do familiar – que era ministro da Defesa – ter cochilado em um evento oficial. Por causa disso, ele pagou com a vida, em uma execução que teria sido feita com um tiro de bateria antiaérea.
Entretanto, alguns relatos de excuções são notoriamente difíceis de serem verificados por conta do isolamento do país imposto pelo regime, enquanto outros casos também se revelaram falsos.
Em 2013, a popular cantora norte-coreana Hyon Song-wol foi centro de um escândalo quando teria sido executada publicamente, com um jornal sul-coreano dizendo que ela foi baleada “em uma chuva de metralhadora enquanto sua orquestra olhava”. Porém, ela reapareceu em 2018 como parte de uma delegação norte-coreana que visitou Seul antes das Olimpíadas de Inverno.