O pastor Marco Feliciano (Republicanos-SP) criticou a postura da cúpula da Igreja Católica no Brasil, que não se posicionou em defesa à retomada das celebrações nos templos cristãos, e afirmou que esse é um dos sintomas que impulsionam o crescimento numérico dos evangélicos no país.
Os protestos de lideranças evangélicas contra a jurisprudência estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal, conferindo autoridade a prefeitos e governadores para proibirem realização de cultos, vêm se avolumando nas últimas horas.
No sábado, em decisão liminar, o ministro Nunes Marques atendeu a uma ADPF da ANAJURE para restaurar o direito às celebrações presenciais, conforme previsto na Constituição.
Na segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes emitiu decisão liminar em sentido contrário numa ação movida pelo PSD que questionava um decreto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), conforme informações do portal G1.
Diante das idas e vindas do Poder Judiciário, Feliciano lamentou que a Igreja Católica, lar da maioria da população brasileira, não se posicione em defesa da liberdade de culto no país: “Cardeal de São Paulo mandou as igrejas católicas ficarem fechadas apesar da liberação do STF. Depois que o Papa não condenou a liberação do aborto na Argentina nada mais me espanta na cúpula do catolicismo. Não à toa os evangélicos serão a maioria religiosa no Brasil em 2032”.
Cardeal de São Paulo mandou as igrejas católicas ficarem fechadas apesar da liberação do STF. Depois que o Papa não condenou a liberação do aborto na Argentina nada mais me espanta na cúpula do catolicismo. Não à toa os evangélicos serão a maioria religiosa no Brasil em 2032.
— 👊🇧🇷 Marco Feliciano (@marcofeliciano) April 5, 2021
Maioria
A publicação no Twitter fez referência a uma projeção do pesquisador José Eustáquio Alves, um especialista que trabalhou no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele acredita que em pouco mais de dez anos, o número de evangélicos no Brasil supere o de católicos.
O Censo 2010 do IBGE, fonte dos últimos dados oficiais, apontam para aproximadamente 22 milhões de evangélicos no Brasil (22% do total) contra 125 milhões de adeptos do catolicismo (64%). No entanto, pesquisa Datafolha realizada em 2019 apontava que 31% da população já era formada por evangélicos, contra 50% de católicos e 10% de pessoas sem religião.
Em 2032, Eustáquio Alves estima que o número total de fiéis de cada uma das duas tradições cristãs deve ficar em torno de 90 milhões. Isso se deve à progressão geométrica do cenário registrado no país nos últimos anos: os evangélicos crescem, em média, 0,8% ao ano desde 2010, enquanto no mesmo período o número de católicos diminuiu 1,2% na média.
Caso a projeção se confirme, cada uma das duas religiões corresponderá a cerca de 40% da população brasileira em 2032. Se essa curva de crescimento se mantiver, a partir daquele ano, os evangélicos devem se tornar maioria no país: “Estamos vivendo uma transição religiosa nos últimos anos”, disse Eustáquio Alves, que também acredita que a mesma mudança deve ocorrer, em ritmos diferentes, nos demais países da América Latina.
Atritos antigos
Em 2013, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu que Marco Feliciano tivesse respeito pela Igreja Católica, após declarações do pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento sobre a religião romana ser “morta e fajuta”.
O atrito, à época, se deveu a um vídeo onde o pastor comentava uma situação hipotética de exorcismo por parte de católicos. Nesse contexto, Feliciano disse que o demônio responderia: “Eu conheço o Deus de Paulo (São Paulo). Não é o Deus dessa religião morta e fajuta em que você (católico) está”.
A polêmica se expandiu e o bispo Dimas Lara Barbosa, porta-voz da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) comentou as declarações do pastor Feliciano e exigiu “respeito” para com a denominação.
“O diálogo pressupõe o respeito à liberdade de confiança e à liberdade religiosa das pessoas. A mensagem católica caminha na direção do diálogo e do respeito, não do confronto”, afirmou Barbosa.