Antes da execução no dia 16 de junho de 2019, o plano para matar o pastor Anderson do Carmo teria envolvido a busca por um atirador, e uma das filhas adotivas de Flordelis teria procurado informações na internet sobre como contratar uma pessoa para mata-lo.
Os investigadores da Polícia Civil do Rio de Janeiro descobriram que a deputada federal teria incumbido Marzy Teixeira da Silva a missão de contratar um capanga para matar o marido, para que ela não precisasse se divorciar.
Ao fazer a perícia nos dispositivos eletrônicos apreendidos, eles descobriram que Marzy usou o Google para pesquisar como contratar uma pessoa para executar o crime. Os termos pesquisados foram “Assassino onde achar”, “Alguém da barra pesada” e “Barra pesada online”.
A mesma filha também fez buscas por informações sobre envenenamento, como “veneno para matar pessoa que seja letal e fácil de comprar” e “cianeto de cobre”. Meses antes de sua morte, Anderson do Carmo foi hospitalizado ao menos cinco vezes com sintomas de envenenamento.
De acordo com informações do portal G1, em certa altura Marzy decidiu procurar o irmão adotivo, Lucas César dos Santos, para contratá-lo para o crime. Ele havia deixado a casa da família por se sentir mal tratado e passado a integrar uma facção criminosa. Ao confessar aos policiais ter feito essa conexão, ela também revelou que a ideia agradou Flordelis.
Quando a proposta se aprofundou, Marzy ofereceu R$ 10 mil a Lucas para que ele executasse o pastor, e o dinheiro estaria numa mochila de Anderson, que teria o hábito de carregar ao menos R$ 5 mil em dinheiro. Além do valor, relógios caros que eram do pai adotivo teriam sido prometidos ao rapaz, que está preso há meses.
Contudo, Lucas comentou o plano com outras pessoas, e mensagens de texto chegaram ao iPad que era usado por Anderson do Carmo, o que levou o pastor a questionar os filhos sobre o que estava acontecendo.
‘Escandalizar o nome de Deus’
Um raciocínio atribuído a Flordelis pelo promotor Sergio Lopes Pereira, um dos responsáveis pela denúncia feita contra a deputada à Justiça, indica que a cantora neopentecostal preferia mandar matar o marido do que se divorciar dele.
“Quando ela convence e fala com um outro filho que está aqui denunciado, o André, sobre esse plano de matar Anderson, ela fala da seguinte maneira: ‘Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus’, e então resolve matar. Ou seja, nessa lógica torta, o assassinato escandalizaria menos”, afirmou Pereira durante uma entrevista na última segunda-feira, 24 de agosto.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o plano para matar o pastor se estendeu por mais de um ano: “O grupo que se formou vendeu a imagem de um casal perfeito, de uma família caridosa, que criou 55 filhos, quando na verdade os autos mostram que isso foi um golpe, um meio de se conseguir proteção. Começou em maio de 2018 com tentativa de envenenamento do pastor Anderson. Era feito de forma sucessiva, gradual, cumulativa, para conduzir a morte do pastor. [Era usado] veneno, mais notadamente o arsênico, que era posto na comida e na bebida do pastor de forma dissimulada”, revelou.
A motivação para um crime calculado e tentado de forma reiterada, até o desfecho trágico, seria puramente financeira: “O pastor era o gestor dessa família, a cabeça pensante. Era ele quem geria a carreira artística, religiosa e política da deputada. […] Ela, além de arquitetar todo esse plano criminoso, financiou a compra da arma, convenceu pessoas a praticar esse crime, ela avisou sobre a chegada da vítima ao local, e ela ocultou provas. Pra gente fica muito claro, não resta a menor dúvida, de que ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime”, comentou o delegado que concluiu as investigações, Allan Duarte.
“Não se tratava de uma simples família, mas de uma organização criminosa intrafamiliar. O inquérito traz a desconstrução dessa imagem de decência [da deputada], de pessoa caridosa. Ela vendia esse enredo para conseguir chegar à Camara dos Deputados, e depois tratar essa pessoa [Anderson] como objeto descartável”, acrescentou Duarte.
Expulsão
O Partido Social Democrático (PSD) deverá expulsar Flordelis do quadro de filiados, agora que a deputada está formalmente acusada de envolvimento no homicídio. Além disso, as investigações encontraram indícios de rachadinha, que é a prática ilegal de confiscar parte dos salários dos assessores que trabalham com os parlamentares.
“A Rayane (dos Santos Oliveira, neta de Flordelis e presa na manhã desta segunda por envolvimento no assassinato), quando foi pra Brasília, foi com a promessa de ganhar R$ 15 mil por mês como assessora parlamentar, mas a gente tem documentação nos autos que mostram que estaria recebendo R$ 2,5 mil”, disse o delegado Allan Duarte, mencionando também o crime de “nepotismo direto e cruzado”.
Com esse cenário, o ex-ministro Gilberto Kassab e presidente nacional do PSD, afirmou em nota que um processo para expulsar Flordelis já está em andamento: “O PSD esclarece que desde o início acompanhou o caso citado e defendeu o andamento e aprofundamentos das investigações. Diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação e, a partir dos desdobramentos perante a Justiça, serão adotadas as medidas estatutárias para a expulsão da parlamentar dos seus quadros”, disse, conforme informações do portal O Antagonista.