Desde que o Vaticano anunciou a autorização para que os seus sacerdotes possam abençoar casais homossexuais, a reação no mundo religioso, entre lideranças católicas e evangélicas, tem sido bastante contundente. Entre os críticos da medida está o pastor Franklin Graham.
Os evangélicos romperam com a Igreja Católica durante a Reforma Protestante, séculos atrás, mas como tudo o que acontece no Vaticano causa repercussões na sociedade em geral, os pastores como Graham têm reagido com preocupação contra a escalada liberal do papado.
Em um post recente feito no Facebook em resposta ao Vaticano, o presidente da Associação Evangelística Billy Graham lembrou que “essas chamadas ‘bênçãos’ dos líderes religiosos não salvarão ninguém do julgamento de Deus!”.
Já pelo Twitter, o evangelista citou a passagem de Isaías 5:20, onde é dito “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal…”. Isto é, que invertem os valores, passando a ser coniventes com o pecado.
“O Papa Francisco aprovou agora que os padres católicos ‘abençoem’ casais do mesmo sexo. Mas nenhum de nós, incluindo o Papa, tem o direito de ‘abençoar’ o que Deus chama de pecado”, comentou Franklin Graham.
Distorção da mídia
Em uma entrevista para o portal católico Aleteia, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, que possui doutorado em Teologia Moral, explicou que o documento do Vaticano não altera a doutrina católica a respeito do matrimônio.
“Diferentemente de uma Instrução, que teria caráter mais normativo, uma Declaração é apenas uma manifestação do Magistério acerca de um tema controverso, mas não com a força de uma definição”, disse ele.
Ao falar da bênção, Oliveira argumentou que trata-se de algo que qualquer pessoa pode solicitar, e que esta seria a intenção do Vaticano. Ou seja, oferecer um “tipo de auxílio” que “pode ser dado a pessoas que não estão em condições moralmente regulares.”
Oliveira diz ainda que a imprensa distorceu o documento do Vaticano, fazendo parecer algo que não condiz com a realidade. Questionado sobre a definição doutrinária do casamento, o padre sustenta que a declaração reforça a doutrina atual, em vez de alterá-la.
“Se lermos atentamente o texto do documento, e não as notícias veiculadas pela mídia, veremos que o Dicastério para a Doutrina da Fé faz exatamente o contrário: ‘trata-se de evitar reconhecer-se como matrimônio algo que não o é’, pois o matrimônio é ‘uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta à geração de filhos’… ‘Esta convicção é fundada sobre a perene doutrina católica do matrimônio. Somente neste contexto as relações sexuais encontram o seu sentido natural, adequado e plenamente humano. A doutrina da Igreja, sob esse ponto, permanece firme’”, conclui o católico.
Para o pastor Silas Malafaia e Franklin Graham, no entanto, a autorização quanto ao pedido de bênção constitui um erro, pois dará margem para que casais homossexuais solicitem bênçãos não quanto à individualidade das suas vidas, mas sobre o tipo de união.
Assim, na prática, mesmo que a Igreja Católica não reconheça oficialmente o casamento gay, o ato de abençoar possíveis casais gays seria como estar endossando o pecado da prática homossexual, o que contraria a doutrina da própria instituição.