Ao longo dos anos, a TV Globo sempre usou seus programas de entretenimento para difundir sua pauta ideológica. Novelas e humorísticos têm sido a ferramenta da emissora para praticar a hostilização a quem se opõe a seus valores, e os alvos mais recorrentes são os evangélicos e conservadores em geral, a chamada direita política.
Na última terça-feira, 10 de abril, o pretenso programa de humor Tá No Ar, comandado por Marcelo Adnet e Marcius Melhem, fez uma chacota das contribuições em dinheiro feitas pelos fiéis evangélicos e também mostrou uma paródia da música Realce, de Gilberto Gil, como crítica aberta ao movimento conservador no Brasil.
A crítica reiterada aos dízimos e ofertas já deixou para trás, há anos, o argumento de combater a exploração promovida por pregadores da teologia de prosperidade, embora ainda se valha dessa embalagem. No quadro “Shark Temple”, que parodia o Shark Tank, transmitido pela Sony na TV por assinatura, os humoristas se referem às igrejas como um “negócio lucrativo”.
Numa referência à imunidade tributária dos templos religiosos, Adnet enfatiza que sua atividade é “livre de impostos”, e refere-se aos dizimistas como idiotas que são enganados sem esforço. Como demonstração do “sucesso”, obreiras apareceram carregando sacos de dinheiro, numa alusão a um antigo vídeo com pastores da Igreja Universal do Reino de Deus com montanhas de dinheiro no Maracanã.
A postura agressiva da Globo a uma parcela da sociedade que só faz crescer nas últimas décadas – e que segundo projeções de institutos de pesquisa como Datafolha e IBGE será maioria no país em poucos anos – parece ser uma estratégia suicida, mas é também sinal de que a Globo já não sabe o que fazer para difundir sua ideologia junto a esse segmento.
Em outro ponto do programa, a paródia da história do sacrifício de Isaque, Abraão é representado como um maluco que ouve vozes e estaria disposto a matar o filho por fanatismo religioso
‘Reaça’
Ao final do programa, Marcelo Adnet canta uma paródia da canção Realce, de Gilberto Gil, numa crítica aberta aos conservadores, distorcendo os valores defendidos por quem se opõe ao progressismo ideológico e cultural.
“Como é que pode/Quer que a ditadura volte/Mas de certo se arrependerá/Vai ter censura até no seu textão do Face/E você mesmo pode se ferrar/ Vê um corpo desnudo/ E acha um insulto para a família brasileira/ Reaça/ Não seja reaça/ Não faz sentido/Ter escola sem partido”, diz um trecho da paródia.
As críticas são menções claras à postura de oposição dos conservadores às exposições como Queermuseu, patrocinada pelo banco Santander, aos elogios feitos pela intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro e ao projeto Escola Sem Partido, que pretende coibir a doutrinação ideológica de alunos por parte de professores militantes.
A desonestidade da paródia chega ao cúmulo de alternar imagens do nazismo, marchas durante o Regime Militar no Brasil e os protestos contra a corrupção que culminaram com a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), cassada pelas “pedaladas fiscais”.