Ricardo Gondim, líder da Igreja Betesda, voltou a criticar o candidato Jair Bolsonaro (PSL) e endossou a campanha #EleNão. Para o líder religioso, é preciso barrar o movimento que quer eleger o capitão do Exército por risco de o país mergulhar em algo similar ao nazismo.
Ao longo de seu artigo, Gondim traça um paralelo ao dizer que assim como ele faz hoje, teólogos protestantes alemães, assim como lideranças católicas, denunciaram o movimento ultranacionalista encabeçado por Adolf Hitler no começo do século passado e combateram o extremismo ao ponto de empunharem armas.
“Embora ainda esteja muito distante comparar Bolsonaro a Hitler, preciso esclarecer que nos primórdios do fascismo alemão, algumas atitudes serviram para suavizar a ascensão do partido nazista. O radicalismo da direita não chegou de forma abrupta”, afirma Gondim.
O polêmico pastor afirmou ainda que seu posicionamento alinhado com a esquerda é de longa data: “As razões pelas quais denuncio a candidatura, bem como as pretensões políticas de Bolsonaro não são partidárias. Sim, já fui filiado ao PT. Porém, no dia em que Delúbio Soares compareceu à CPI que investigava desvios e compra de voto, o famoso mensalão, entendi como dever ético não mais associar meu nome ao partido. Portanto, não tenho qualquer interesse em defender ninguém ou qualquer bandeira partidária”, indica.
Em seguida, ignorando que o candidato busca a presidência do país através do voto, Gondim – assim como em ocasiões anteriores – dispara rótulos: “Bolsonaro representa uma ameaça à democracia e ao estado de direito. Ele põe em risco grupo minoritários como indígenas, homossexuais e imigrantes. Sua ideologia é confessadamente machista, já que tem as mulheres em um patamar inferior”, acusa.
“O discurso de ódio que o ex-capitão repete, guarda o potencial de alavancar a agenda fascista. Bolsonaro apela a grupos radicais e eles alimentam a intolerância. Suas ideias se baseiam na propaganda falsa de que armar o povo estanca a violência. Um argumento tão grotesco como dizer que gasolina apaga fogo”, acrescenta o pastor.
O quesito referente à revogação do Estatuto do Desarmamento tem sido um dos pontos mais polêmicos da campanha de Bolsonaro, assim como o mais distorcido por seus adversários. A ideia é que a posse de arma seja permitida para pessoas que atendam requisitos, incluindo ausência de antecedentes criminais. Parte da proposta é impulsionada pelos índices de criminalidade nos países onde a posse, e até o porte, são permitidos.
Nesse ponto, o pastor se exime de traçar paralelos entre a possibilidade de possuir armas nos dias atuais assim como os teólogos que ele próprio cita na luta contra a opressão de Hitler, uma vez que um dos conceitos envolvidos na filosofia do direito à defesa da vida inclui a possibilidade de refutar a tomada ditatorial do Estado.
Mais à frente, Gondim acrescenta em seu artigo que o discurso de Bolsonaro “contém as sementes do fascismo clássico”, e especula que “a viabilidade de um possível governo seu dependeria da suspensão dos direitos fundamentais dos cidadãos”.
Por fim, o pastor Ricardo Gondim declara que seu adversário político é “fantoche de grupos de extrema-direita, interessados em suspender a ordem em nome da segurança, e de meter o Brasil num perigoso fundamentalismo religioso“.
Confira a íntegra:
Meu posicionamento nas eleições de 2018
Todo líder religioso tem o dever de se antecipar à história antes que algum desastre aconteça. No jargão da teologia, isso se chama “ser profético” – já que profecia é um diagnóstico dos rumos que os eventos podem, ou não, tomar. Portanto, se um pastor falha em avisar sobre o futuro, ele fracassa em sua vocação.
Por outro lado, por lidar com diversidade de pensamentos e com pessoas de diferentes perfis, o líder religioso deve proibir a si mesmo de querer influenciar os votos de sua comunidade. Ele, ou ela, não pode usar de suas prerrogativas para tentar gerar em seu auditório “comportamento de manada”. É sua obrigação jamais manipular com medo, falsos inimigos; e nunca identificar os que pensam diferente como aliados do Diabo.
Dito isso, a partir desses dois parágrafos, sinto pesar sobre os ombros o imperativo de prever: o que vem por aí se mostra tenebroso caso Bolsonaro prevaleça. Se não me compete afirmar em quem votar, aceito como mandamento aconselhar em quem não votar: #elenão.
Embora ainda esteja muito distante comparar Bolsonaro a Hitler, preciso esclarecer que nos primórdios do fascismo alemão, algumas atitudes serviram para suavizar a ascensão do partido nazista. O radicalismo da direita não chegou de forma abrupta.
Poucos judeus ricos consideraram os alarmes de antissemitismo exagerados – eles repetiam que o ódio aos judeus era secular e não devia criar pânico maior; jornais acalmaram os leitores com textos do tipo: “esses discursos de violência não passam de bravatas”; segmentos da academia, com filósofos de primeira linha como Heidegger, engenheiros, físicos e arquitetos, afirmaram total confiança no nazismo. Por último, não menos importante, inúmeros pastores e padres carimbaram os anseios do nacionalismo.
Todavia, muita gente falou, protestou, foi torturada e assassinada por prever o desastre. Os protestantes Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, Karl Barth não se calaram – Barth chegou a pegar em armas, Bonhoeffer participou de uma conspiração para assassinar Hitler e por isso foi enforcado em um campo de concentração. Entre os católicos romanos não se pode esquecer do jesuíta Rupert Mayer, cujo sofrimento terminou em um campo de concentração em Sachsenhausen – sua grandeza mereceu o reconhecimento da igreja e ele foi beatificado pelo Papa João Paulo II. Outro católico, feroz opositor do regime e membro da resistência, foi o jesuíta Alfred Delp, também executado em 1945.
As razões pelas quais denuncio a candidatura, bem como as pretensões políticas de Bolsonaro não são partidárias. Sim, já fui filiado ao PT. Porém, no dia em que Delúbio Soares compareceu à CPI que investigava desvios e compra de voto, o famoso mensalão, entendi como dever ético não mais associar meu nome ao partido. Portanto, não tenho qualquer interesse em defender ninguém ou qualquer bandeira partidária.
Entendo apenas que Bolsonaro representa uma ameaça à democracia e ao estado de direito. Ele põe em risco grupo minoritários como indígenas, homossexuais e imigrantes. Sua ideologia é confessadamente machista, já que tem as mulheres em um patamar inferior. O discurso de ódio que o ex-capitão repete, guarda o potencial de alavancar a agenda fascista. Bolsonaro apela a grupos radicais e eles alimentam a intolerância. Suas ideias se baseiam na propaganda falsa de que armar o povo estanca a violência. Um argumento tão grotesco como dizer que gasolina apaga fogo.
Bolsonaro tem ambição totalitária; seu discurso contém as sementes do fascismo clássico. A viabilidade de um possível governo seu dependeria da suspensão dos direitos fundamentais dos cidadãos. A democracia falha e trôpega do Brasil corre sérios riscos.
Ele, entretanto, não é protagonista das próprias aspirações. Eu o percebo fantoche de grupos de extrema-direita, interessados em suspender a ordem em nome da segurança, e de meter o Brasil num perigoso fundamentalismo religioso.
Como cristão não posso me calar. Como pastor sinto que me omitir seria negar tudo o que já falei e escrevi. Também sei que tanto a história como Deus são implacáveis com os covardes, e não quero ser contado entre eles.
Soli Deo Gloria