Músicos correm atrás de anúncios Se antes as empresas corriam atrás de músicos e intérpretes para atrelar suas marcas ao glamour que eles poderiam sugerir aos consumidores – promovendo até polêmicas como quando Tom Jobim cedeu os direitos de Águas de Março para a Coca-Cola -, agora são os próprios artistas que buscam atrelar seus trabalhos à publicidade para garantir receita e projetar trabalhos, inaugurando uma nova fase na contratação de trilhas sonoras na propaganda.
Diante de um mercado em que a venda de CDs despencou com a facilidade dos downloads pela internet, virou questão de sobrevivência encontrar formas de garantir ganhos. Associar músicas às marcas é um recurso cada vez mais utilizado. Cresce o número de músicos que assinam contratos de licenciamento antes mesmo de entrar nos estúdios para gravar os novos trabalhos.
O poder da estratégia fica bem dimensionado em casos como o da cantora e compositora franco-israelita Yaël Naïm. Na estrada há tempos, ela sentiu o sabor do reconhecimento global após ter cedido a canção New Soul para o comercial de lançamento do laptop da Apple, MacBook Air. Detalhe: no disco que abriu as portas a turnês lotadas, Yaël canta em hebraico.
No Brasil, há experiências semelhantes. A rainha do axé baiano, Ivete Sangalo, procurada pela Avon para ser garota-propaganda de um perfume, condicionou sua participação à venda de seu CD pelas revendedoras. O resultado foram mais de meio milhão de discos vendidos.
“Quando fizemos a parceria, a gravadora dela, a Universal Music, classificou-a como ?ação depredatória?, com que sempre discordei”, conta Jesus Sangalo, irmão da cantora e presidente da Caco de Telha Entretenimento, empresa que administra os interesses de músicos como Banda Eva e Timbalada. Para ele, a música é um produto de preço absoluto barato, porque há farta disponibilidade no mercado. “Só ganha valor depois de atrair audiência”, diz ele.
Ivete tem sido uma das mais ousadas no uso de apelos mais comerciais para impulsionar seu trabalho. Não se intimidou em oferecer ao Bradesco uma música que criou na piscina de sua casa com a palavra “completo”, mote da campanha do banco. O Bradesco, lógico, topou.
Mas não só os artistas consagrados buscam esse tipo de contato com as empresas. A garota sensação do momento, Mallu Magalhães – que com apenas 15 anos se projetou em sites de relacionamento -, assinou contrato de distribuição de seu primeiro CD com a operadora de celular Vivo. Tudo começou com uma parceria Vivo/Motorola para os fãs da Mallu baixarem, dois meses antes da venda do CD, as músicas de seu trabalho de estreia. “Foram 70 mil downloads”, conta o gerente de Negócios Multimídia da Vivo, José Guilherme Novaes.
O publicitário Alexandre Gama, presidente da agência NeogamaBBH, concorda: está mais fácil adquirir direitos autorais. Ele não usa jingles ou trilhas encomendadas, mas observa: “Há ainda os puristas, como a banda londrina Coldplay, que procuramos e nos disse que não vende música para publicidade”.
O avanço do negócio de licenciamento de canções é reconhecido até por quem mais se prejudicará com isso, como o produtor musical Zezinho Mutarelli, da empresa Sax So Funny, responsável por trilhas de comerciais. “Criar para a publicidade vai ficar mais difícil, por isso estudo entrar no negócio de licenciamento de artistas.”
Mutarelli constata que muitas músicas ganham visibilidade pela propaganda, que se torna um canal para os profissionais. “Para se conseguir uma inserção musical no programa do Faustão, a gravadora tem de desembolsar até R$ 100 mil por alguns minutos. Logo, um comercial pode ser excelente vitrine, a um custo muito menor.”
Fonte: Boletim ABPD / Gospel+
Via: Gospel Music Café
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