O novo megatemplo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que reproduz o templo de Salomão ainda não foi inaugurado, mas já se tornou alvo de um protesto da artista israelense Yael Bartana, que acaba de rodar o filme intitulado “Inferno”.
Bartana visitou as obras do megatemplo que está sendo erguido no Brás, bairro da capital paulista, e recriou o que viu num galpão de uma escola de samba, parte do interior do local, com um portal dourado.
“Não pude deixar de pensar que isso tinha de ser destruído. É mais um projeto utópico para marcar uma identidade, só que para toda utopia existe uma distopia. Toda construção carrega a sua destruição”, afirmou a artista ao jornal Folha de S. Paulo.
O megatemplo da Universal que pretende ser uma réplica do templo de Salomão descrito na Bíblia custará ao final das obras, previstas para terminarem no próximo ano, a soma de R$ 700 milhões. Segundo o jornal, apenas a importação de pedras de Israel para revestir a fachada teve taxação de R$ 2,4 milhões em impostos, fora o custo efetivo do material.
O filme feito por Bartana custou R$ 1 milhão, que foi financiado pela galeria Petzel, de sua propriedade e localizada em Nova York. De acordo com a reportagem, a artista encenou a chegada das pedras importadas na Praça da Sé, e posteriormente, quando tudo estava montado, foram outros dois dias de filmagens para encenar a destruição do megatemplo, com direito a explosão de vidraças, bolas de fogo no altar, portais e querubins.
A inspiração para a cena de destruição do megatemplo da Universal veio de um quadro “Caos e Anarquia”, do pintor italiano Francesco Hayez, que em 1867 ilustrou uma cena em que fiéis se jogam de um templo em chamas.
“O discurso do bispo Edir Macedo é que, se os fiéis não podem ir a Jerusalém, ele traz Jerusalém até eles. É quase um artista tentando fazer uma escultura gigantesca”, ironiza a artista
Apesar de todo o teor questionador da produção, Bartana diz que seu filme é uma proposta de reflexão sobre prioridades e mudanças: “É difícil saber em que época se passa o filme. Mas não é uma crítica aos evangélicos, nem tenho a intenção de criticar nada. O filme é sobre a estética da destruição e como devem ser os lugares sagrados. Não sou brasileira nem evangélica, mas sou israelense. Gosto de analisar essa mitologia do retorno a Israel. Não acredito em fazer arte contra algo. Tento só refletir as condições em que vivemos. Há espaço na arte para propor condições diferentes ou, pelo menos, imaginar essas condições, transitar entre arte e vida”.
Procurada pela reportagem do jornal, a Igreja Universal afirmou que “sem saber o teor do vídeo é impossível saber se a artista pretende criticar a construção do templo, a Universal, seus membros ou fiéis”, e frisou que a denominação é “uma igreja para todas as pessoas, que possui membros de todas as classes sociais e trata todos de forma igual”.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+