Uttar Pradesh, um dos estados da Índia mais hostis aos cristãos, ocupou manchetes de veículos de imprensa no último final de semana por conta da prisão de dezenas de fiéis a Jesus Cristo durante a celebração da Páscoa.
Os fiéis de uma igreja evangélica celebravam, no templo, um culto em razão da “quinta-feira santa”, quando uma multidão de ultranacionalistas hindus cercou o imóvel, trancou as portas e acusou os cristãos de realizarem supostas conversões forçadas ao cristianismo.
A Polícia de Uttar Pradesh foi acionada e 36 cristãos foram presos. Os membros da Igreja Evangélica da Índia em Hariharganj, na cidade de Fatehpur, foram acusados de violarem a “lei anticonversão” do estado pelo grupo extremista Vishwa Hindu Parishad (VHP), informou a entidade International Christians Concern (ICC).
A ICC é uma entidade dedicada a monitorar a perseguição religiosa a cristãos ao redor do mundo. Um comunicado sobre o caso lembrou que a “quinta-feira santa” é uma ocasião em que os fiéis se reúnem pra lembrar a última Páscoa de Jesus com seus discípulos.
“Este é um retrato perfeito do sofrimento de Jesus há 2.000 anos. Sabemos que Jesus suportou, e nós o faremos”, afirmou um membro da congregação atacada, de acordo com a ICC.
O portal The Christian Post informou que as prisões foram feitas por “conversões religiosas supostamente ilegais de 90 pessoas nos últimos 40 dias no distrito”.
“Infelizmente, Uttar Pradesh é um dos estados mais severos da Índia em relação às violações da liberdade religiosa”, disse Jeff King, presidente da ICC.
“Quando as autoridades indianas validam as ações de uma turba violenta prendendo as vítimas da turba, estão enviando uma mensagem de que a atividade criminosa é aprovada pelas autoridades sempre que visa minorias religiosas. Esse tipo de postura legal só piora o clima de liberdade religiosa e aumenta ainda mais a vulnerabilidade dos cristãos a mais violência”, protestou.
O VHP, grupo que fez a acusação contra os cristãos, é conhecido por atacar minorias religiosas na Índia, incluindo cristãos, que somam apenas 2,3% da população do país. O nacionalismo parte de uma premissa de rejeição a toda influência estrangeira, incluindo religiosa, e prega que todo indiano deve ser hindu.
“As leis anticonversão são inerentemente subjetivas e baseadas na percepção, restringindo completamente os direitos dos cristãos a expressões públicas de sua fé”, apontou Jeff King.
Outra entidade de monitoramento da perseguição religiosa, a United Christian Forum (UCF), definiu 2021 como o “ano mais violento” contra cristãos na história do país, com pelo menos 486 incidentes violentos.
“Os extremistas hindus acreditam que todos os indianos devem ser hindus e que o país deve se livrar do cristianismo e do islamismo”, explica uma folha informativa do Portas Abertas. “Eles usam violência extensiva para atingir esse objetivo, principalmente visando cristãos de origem hindu. Os cristãos são acusados de seguir uma ‘fé estrangeira’ e culpados pela má sorte em suas comunidades”, resumiu a UCF.