O ultra-nacionalismo na Índia vem resultando em intensificação da perseguição religiosa a cristãos por parte dos hindus.
O movimento, que tem sua faceta política representada pelo primeiro-ministro Narendra Modi, vem protagonizando cenas de violência cada vez mais frequentes, com um dos casos mais recentes envolvendo um pastor coagido a um ritual.
Sanjay Bhandari foi espancado e torturado por uma multidão de radicais hindus no início de abril, com a turba obrigando-o a fazer um ritual religioso hindu. Ele precisou ser internado e perdeu a audição de um dos ouvidos.
O pastor Bhandari e sua esposa estavam visitando uma familiar no estado de Karnataka (um dos locais na Índia onde há maior hostilidade a cristãos) quando aproximadamente 60 radicais o tiraram à força da casa para agredi-lo.
“Enquanto ainda estávamos tomando chá, alguns homens invadiram a casa e, agarrando-me pelo colarinho da camisa, me arrastaram para fora, acusando-me de realizar conversões”, relatou o pastor ao portal Morning Star News.
“Eu tentei muito explicar que era a casa dos meus parentes e que estávamos apenas fazendo uma visita casual, mas os homens se recusaram a ouvir”, acrescentou Bhandari.
A intolerância dos radicais hindus à atuação missionária é velha conhecida das entidades que se dedicam a monitorar a liberdade religiosa na Índia.
O grupo que atacou o pastor o levou à igreja onde ele dirige cultos para continuar a agressão: “Eles continuaram a me bater enquanto me arrastavam. Eles abusaram de mim e de Jesus Cristo em linguagem suja”, relembrou.
Irracionalidade
A acusação de que o pastor estaria convertendo a cunhada ao cristianismo já seria uma motivação fútil para a agressão, mas o fato de a irmã de sua esposa já ser cristã só torna o caso ainda mais surreal.
“Eles me bateram nas partes íntimas, no rosto, no peito e em todo o corpo, acusando-me de tentar converter minha cunhada. Tentei dizer-lhes que a casa pertence à minha cunhada e que já são cristãos e membros da minha igreja”, contou o pastor, sobre sua tentativa de dialogar com os radicais.
A multidão, no entanto, subiu o tom das agressões, passando a gritar palavras de ordem com referências à religião hindu e renovando as acusações, dizendo que o pastor Bhandari teria obrigado um ex-hindu identificado como Santosh Satpute a se converter ao cristianismo.
O próprio Santosh tentou intervir, dizendo que sua mudança de religião foi uma decisão pessoal e espontânea, mas não adiantou: “Quando tentamos resgatar o pastor Sanjay, a multidão me agrediu junto com o pastor Sanjay, sua esposa e seu irmão Bhimshen. Fiquei ferido no peito e na orelha”, disse ele.
Tortura
Sob o jugo da turba de radicais, o Bhandari foi obrigado a realizar rituais hindus, contou Santosh: “Eles torturaram o pastor Sanjay física e mentalmente. Ele foi forçado a realizar rituais hindus contra sua vontade. O assédio e a tortura que ele sofreu estão além da descrição”.
O pastor, no entanto, se manteve lúcido e tentou, a todo instante o diálogo, chegando a sugerir aos agressores que o levassem à Polícia para que as autoridades da Índia investigassem se ele estava tentando forçar conversões, mas a resposta foi negativa, acompanhada de ameaça: “Eles avisaram que me cortariam em pedaços se eu dirigisse a igreja novamente”, disse Bhandari.
Ele precisou de atendimento médico para tratar o ouvido e as lesões na genitália, ombro e tórax. Os danos em um dos tímpanos foi considerado irreversível, o que deixou o pastor surdo em um dos ouvidos.
Depois que recebeu alta hospitalar, o pastor foi à Polícia, acompanhado de outros líderes cristãos locais, e tentaram registrar queixa, mas encontraram dificuldades. Porém, com a insistência em denunciar a violência, a delegacia da região de Shahapura abriu investigações contra sete pessoas por reunião ilegal, tumulto, causa de danos intencionais, contenção indevida, provocação e intimidação criminal, de acordo com o Código Penal Indiano.
O investigador responsável afirmou que nenhuma prisão foi realizada e o caso foi encerrado. O pastor garante que não desanimará e seu advogado já estuda como levar a denúncia adiante: “Teremos que lutar em níveis mais altos para sermos ouvidos. Eles têm como alvo intencional a comunidade cristã, pastores e seguidores da fé. Eles estão trabalhando com uma estratégia bem planejada”, disse M. Ramesh, o representante legal de Bhandari.
O presidente da Associação de Pastores de Karnataka, T. Thomas, repudiou a violência contra Bhandari: “Igrejas e reuniões cristãs foram atacadas. É extremamente chocante que agora uma visita pessoal à casa de um parente também seja questionável, e você pode enfrentar a brutalidade dos capangas hindus. Não vamos ficar calados. Levaremos isso às autoridades”.