A presença dos evangélicos na política vem crescendo em tamanho e influência, o que naturalmente reduz o peso de outros influenciadores. Nesse contexto, a perspectiva contrária ao progressismo tornou-se alvo de perseguição velada, mas em alguns casos, os ataques são francos: Ancelmo Góis, colunista de O Globo, definiu a participação evangélica nas eleições como “tóxica”.
O crescimento numérico dos evangélicos, com o inerente aumento do percentual desse segmento na população brasileira, vem causando incômodo à elite midiática e “intelectual” do país há anos.
Durante o mandato de Dilma Rousseff (PT), o então ministro Gilberto Carvalho afirmou que era hora de o partido “disputar a influência” com as igrejas evangélicas nas classes de menor poder econômico.
A resposta veio nas urnas, em 2018, com a eleição do candidato que se posicionava abertamente contra a ideologia de gênero, legalização do aborto e drogas, além de pregar uma política de segurança pública mais rígida e estabelecer uma conduta de combate à corrupção também no governo federal.
Mais recentemente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin – que pediu votos por Dilma Rousseff em 2014 e foi indicado à Corte por ela, anos depois – tentou criar uma jurisprudência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabelecendo o “abuso de poder religioso”, que puniria candidatos que fossem apoiados por lideranças evangélicas.
O TSE rejeitou a proposta, mas o recado da elite “intelectual” já estava dado: reduzir o alcance dos evangélicos na política.
Agora, às vésperas das eleições municipais, Ancelmo Góis repercutiu um levantamento sobre a disputa no estado do Rio de Janeiro e, sem meias palavras, classificou a força do segmento evangélico na disputa como prejudicial, uma vez que a ideia de que essa mobilização seja ilegítima já foi derrubada.
O artigo, intitulado “A mistura tóxica entre política e religião”, traz dados sobre dois partidos com franco envolvimento com o segmento evangélico: PSC e Republicanos (também conhecido como o “partido da Igreja Universal”).
“Um levantamento da consultoria Poliarco constatou que os dois partidos com mais candidatos às prefeituras do estado do Rio são fortemente influenciados pelos evangélicos. São eles: o PSC, com 36 postulantes; e os Republicanos, com 35. O primeiro é presidido pelo pastor Everaldo, que está preso, acusado de corrupção na área da Saúde; e o segundo é onde se abriga o pessoal da Igreja Universal, inclusive o prefeito Marcelo Crivella”, publicou Góis.
A simples repercussão dos dados do levantamento, como diz o corpo do texto, serve apenas como constatação dos fatos, mas o jornalista – habituado a alfinetar lideranças evangélicas em suas notas – aproveitou o dado para expressar seu preconceito com a atuação dos evangélicos na política nacional, âmbito onde decisões são tomadas e influenciam, direta e indiretamente, a conservação de valores, princípios e costumes, todos eles caros à comunidade cristã em geral.