Na última semana, quando a Operação Lava-Jato cumpriu um mandado de prisão contra o ex-presidente Michel Temer (MDB), a grande mídia explorou as implicações jurídicas do caso e destacou o fato de o Brasil testemunhar a segunda prisão de um ex-presidente em menos de um ano.
Porém, um detalhe foi deixado de fora dos principais noticiários do país: o juiz que expediu o mandado de prisão preventiva, Marcelo Brêtas, responsável pela 7ª Vara Criminal de Justiça Federal do Rio de Janeiro, é evangélico e usou uma passagem bíblica em uma de suas publicações no Twitter, dias antes do cumprimento do mandado de prisão preventiva contra Temer.
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda (Provérbios 16:18)”, escreveu Brêtas em sua conta na rede social no dia 19 de março. Dois dias depois, o ex-presidente era detido pelos agentes da Polícia Federal em São Paulo.
Brêtas é frequentador da Comunidade Evangélica da Zona Sul, no Rio de Janeiro, e quem tem acesso a seu gabinete atesta que o juiz mantém um exemplar da Bíblia Sagrada sobre sua mesa de trabalho. Na última sexta-feira, 22 de março, voltou a publicar um versículo: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam (Salmos 23:4)”.
“Ele é uma pessoa muito simples, muito discreta. Não gosta de aparecer, pelo contrário. Tem uma vida pacata, entre trabalho, casa e igreja”, comentou Fernando Antonio Pombal, diretor de secretaria e braço direito do juiz na 7ª Vara Federal Criminal, durante uma entrevista à BBC News Brasil em 2017.
Essa postura, no entanto, não impediu Marcelo Brêtas de entrar em rota de colisão com um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018, quando uma decisão quase resultou na soltura do ex-presidente Lula (PT), condenado em segunda instância por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Na ocasião, Brêtas criticou o ministro Marco Aurélio Mello por ter aceitado o pedido de liminar feito pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para soltura dos presos após condenação em segunda instância, por conta da possibilidade de novos recursos. A decisão de Marco Aurélio poderia levar à soltura de dezenas de milhares de presos, e foi tomada no último dia de expediente no STF no ano, em 19 de dezembro.
Logo após a decisão liminar, Brêtas publicou um lamento no Twitter sobre a situação:
“O Brasil está mudando, rapidamente e para melhor. Lamentavelmente essa mudança não é instantânea. Assim, ainda por algum tempo, haveremos de conviver com forças retrógradas, comprometidas com o modelo superado”, observou. “Para evitar conclusões equivocadas, esclareço que se trata de comentário genérico sobre a situação que vivemos em nosso país. Não me refiro a pessoas ou casos determinados”, ponderou, a fim de evitar maiores rusgas com os ministros do STF.
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”(Provérbios 16:18) pic.twitter.com/Wd3pI24lra
— Marcelo Bretas (@mcbretas) 19 de março de 2019