O movimento político que hoje incomoda os partidos de esquerda foi legitimado pelos ícones maiores dessa ideologia: Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT). A afirmação é do professor da USP Ricardo Mariano.
Mariano, professor de sociologia da Universidade de São Paulo e autor do livro Neo Pentecostais, publicado pela Edições Loyola, entende que o crescimento político dos evangélicos foi viabilizado pela esquerda, que se interessou pelo segmento ao notar seu crescimento numérico na sociedade.
“Os evangélicos fazem parte do cenário político há 30 anos, não começou ontem. Essa participação na esfera pública não começou agora com a eleição do Crivella. É importante deixar claro que os governos de esquerda, de Lula e Dilma, fizeram muitos acenos a esse segmento. Eles prometiam aos evangélicos o aumento das parcerias do Estado com as igrejas em troca de apoio parlamentar e votos. A ocupação evangélica de espaços na implementação de políticas públicas é recente. A esquerda abriu muito esse espaço e legitimou essa participação, principalmente na área da Saúde que trabalha com recuperação de usuários de drogas. Vale lembrar que essas parcerias já existiam com as igrejas católicas”, afirmou Mariano.
Para o estudioso, a vitória de Crivella será o aprofundamento das parcerias entre o Estado e as igrejas evangélicas, principalmente na área da Saúde: “Em muitos casos é um recurso público sendo instrumentalizado para fins religiosos”, pressupôs.
Questionado se Marcelo Crivella irá privilegiar as igrejas evangélicas de alguma forma, o professor disse acreditar que isso aconteça de forma sutil: “É provável que a prefeitura conduzida pelo Crivella vá facilitar alguns pontos para as igrejas evangélicas. Seja a lei do PSIU [que exige silêncio nos estabelecimentos e igrejas após determinada hora], seja o código de edificações… As igrejas querem atropelar o código e construir mais do que podem, visando ampliar seus templos. Isso tem impactos profundos no trânsito e no espaço público da cidade. A prefeitura tende a facilitar esses trâmites legais com a regularização dos terrenos e a flexibilização da legislação. Além disso, Crivella deve ampliar as parcerias com as igrejas já firmadas pelo Eduardo Paes, oferecer mais recursos para elas”, especulou.