Luiz Henrique Ferreira Romão, 32 anos, se tornou nacionalmente conhecido em 2010 como Macarrão, quando foi acusado de ser parte do assassinato da modelo Eliza Samudio, que teria dado à luz um filho do então goleiro Bruno, do Flamengo. Agora, com a progressão da pena, ganhou a liberdade, se converteu ao Evangelho e quer recomeçar a vida.
Fora da cadeia, Macarrão está 30 kg mais magro e faz de tudo para não chamar atenção. Preso desde 2010, foi condenado em 2012 a 15 anos de prisão, e cumpriu pouco mais de 8 anos da sentença, conseguindo o direito à liberdade condicional por bom comportamento. Enquanto esteve preso, trabalhou e também conseguiu redução no tempo total da sentença.
Antes da liberdade, teve um pequeno período no sistema semiaberto, entre junho de 2016 e março deste ano. Saída de manhã para trabalhar e voltava à noite para a prisão, onde dormia em uma cela com 17 detentos. Em uma entrevista à revista Época, revelou que é neto de um pastor presbiteriano, e que sua entrega de vida a Jesus foi um processo que começou em 2012, antes do julgamento.
À véspera da audiência final, uma conversa com o goleiro Bruno – da qual ele não revela o conteúdo – fez Macarrão cair na real: estava só e corria o risco de pagar pelo crime sozinho. Na cela, buscou paz contra a angústia que sentia orando e lendo a Bíblia. Ao adormecer, sonhou com os avós dizendo o versículo João 8:32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
No dia seguinte, decidiu que contaria tudo à juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. Anos depois, no dia 02 de abril, quando completou um mês de liberdade, decidiu contar sua versão da história em uma entrevista. “Não matei [Eliza]. Levei para matar”, admitiu.
Frequentando a Igreja do Evangelho Quadrangular em Pará de Minas (MG), Macarrão tem se dividido entre prestar serviço de zeladoria na igreja e lavar carros. Uma de suas obsessões é se livrar do apelido que ganhou na infância por causa do cabelo cacheado: “Não sou aquele monstro. Meu nome não é Macarrão. Eu sou Luiz Henrique. Sempre fui moleque bom, trabalhador”
Uma das evidências trazidas à tona pelo próprio é a dedicação ao trabalho na prisão: foi rejeitado pelo dono de uma fábrica de gesso que não queria contratar preso famoso. Macarrão insistiu, se ofereceu para trabalhar de graça e, durante 45 dias, foi avaliado. Terminou contratado e aos poucos ganhou a confiança do empresário, que o promoveu a coordenador de 60 detentos.
Foram quatro anos e meio de trabalho na fábrica, e só deixou o cargo após conseguir transferência para Pará de Minas, cidade onde a mulher e os três filhos — o caçula concebido em uma visita íntima — haviam recomeçado a vida de forma anônima, já que tinham enfrentado problemas em duas outras cidades.
Foi através da esposa que Macarrão chegou à Igreja do Evangelho Quadrangular, onde apenas o pastor Luiz Paulo Marques sabia sua história. O líder evangélico, na tentativa de ajudar, tentou arrumar um emprego para ele no comércio local, mas ninguém quis dar. Uma das empresárias consultadas respondeu dizendo para o pastor contratar, e assim ele fez.
Durante um culto, ao anunciar sua decisão à igreja para cerca de 300 pessoas, se deparou com uma reação similar à dos comerciantes: cerca de 20 fiéis o procuraram ao final do culto para informar que deixariam a igreja. “Eu prego o amor. Que amor é esse se eu não estendesse uma mão para um homem que busca se regenerar?”, afirmou.
Na igreja, Luiz Henrique Ferreira Romão varre, passa pano, lava banheiros, pinta paredes e faz pequenos reparos. “Eu errei muito. Não fui santo, não sou vítima. Tenho de ser grato pelas oportunidades que me dão”, afirmou, ciente de que ainda tem anos pela frente para quitar sua dívida com a Justiça, e também para reconquistar sua reputação.