A Convenção Batista do Sul, maior denominação evangélica dos Estados Unidos, relatou que ao longo de 2020 mais de 435 mil fiéis se desligaram das igrejas filiadas.
O relatório anual da SBC (na sigla em inglês) mostra que 435.632 membros se desligaram da denominação ao longo de 2020, um número 51% maior que o número de fiéis que deixaram seus quadros em 2019: 287.655.
A avaliação interna é que a tendência de queda registrada desde 2006, quando um pico de 16,3 milhões de fiéis eram membros da SBC – uma das mais zelosas pelo ensino da Palavra –, foi impulsionada pela pandemia. Hoje, o total é quase 2 milhões a menos.
Scott McConnell, diretor executivo da LifeWay Research, divisão de pesquisa da SBC, disse em um comunicado que a assustadora perda de membros em apenas um ano pode ser explicada pela pandemia do novo coronavírus, de acordo com informações do portal The Christian Post.
“Muitos líderes relataram suas tentativas de permanecer em contato com sua igreja durante a pandemia. Conforme as igrejas redescobriram o telefone, eles também descobriram alguns em suas listas de membros que se mudaram, se filiaram a outra igreja ou não queriam mais ser membros”, contou McConnell.
Outro dado alarmante foi que, ao longo de 2020, houve quase 50% menos batismos nas águas em relação ao ano anterior: 123.160 contra 235.748 em 2019. “O distanciamento social é útil para conter a pandemia, mas dificultou o encontro de novas pessoas, as convidando para ir à igreja e as ajudando a dar um passo de obediência para serem batizadas”, disse McConnell.
O distanciamento social imposto por autoridades também dificultou o trabalho das congregações no que se refere ao evangelismo: “O último ano que os Batistas do Sul viram essas poucas pessoas seguirem a Cristo pela primeira vez foi em 1918 e 1919, quando a gripe espanhola estava varrendo o mundo”, informou o diretor, correlacionando a atual pandemia com a de um século atrás.
O mal do secularismo
O diretor de pesquisa da SBC aponta que as influências seculares na igreja têm sido responsável por um abandono dos norte-americanos às origens da nação. Em 2019, quando houve uma queda pequena de 4% no número de batismos, McConnell já apontava esse tema como um dos percalços no caminho da denominação.
Um estudo recente do instituto Pew Research Center aponta que apenas 65% dos americanos se identificam como cristãos. Os ateus, agnósticos e pessoas que não se identificam com nenhuma religião aumentaram para 26% da população dos EUA.
Questões internas na SBC também desgastaram a imagem da denominação frente aos membros. Alguns pastores negros deixaram a convenção em 2020 depois de terem seu pedido negado pelo Conselho de Presidentes de Seminário.
A Associação Nacional de Afro-Americanos queria abraçar uma teoria acadêmica que examina o “racismo sistêmico”, mas o Conselho considerou que a chamada Teoria Crítica da Raça (CRT) não é compatível com a declaração de fé da SBC.
Um movimento semelhante no Brasil, referido por seus entusiastas como “teologia negra”, vem sendo observado e criticado por pastores tradicionais que veem nesse tipo de abordagem uma politização da Palavra de Deus.
Outra perda recente foi a saída do pastor Russell Moore, até então diretor da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa da SBC nos últimos oito anos, que passará a atuar na revista Christianity Today como diretor do Projeto de Teologia Pública do periódico cristão.