A difusão da teologia inclusiva no meio cristão acontece num ritmo menor do que a ideologia de gênero é imposta à sociedade através da mídia, mas é de fato uma corrente com adeptos que atrai atenção dos veículos de informação. Sal Moretti, mulher transgênero, tem planos de ampliar os adeptos dessa visão e se tornar “pastora”.
A compreensão de que a homossexualidade é pecado é um dos pontos pacíficos em todas as tradições cristãs relevantes, incluindo catolicismo, protestantismo e o movimento pentecostal, oriundo da segunda linha. Nessas convenções, a ideologia de gênero também é repudiada e tratada como uma distorção de visão, propósito e princípios.
No entanto, o movimento LGBTQ construiu sua própria teologia para combater a visão ortodoxa dos ensinamentos da Palavra de Deus, e nos últimos anos, igrejas têm surgido para abrigar homossexuais e transgêneros que não renunciaram aos seus impulsos e pecados, mas gostariam de uma comunidade religiosa para frequentar.
Sal Moretti, 34 anos, é um homem que recebeu o nome de batismo Salvador, e há dois anos iniciou uma transição de gênero, após uma tentativa de suicídio: “Aos 31, tentei me matar. Subi a Pedra da Gávea e iria me jogar, até que ouvi uma voz e achei que estivesse louca mesmo”, afirmou, alegando ter ouvido a voz de Deus.
A fé, disse a maquiadora ao jornal Extra, é uma constante em sua vida desde a infância: “Achei Jesus o máximo. Jesus não excluí ninguém”, afirmou, lembrando que nessa época, seu passatempo predileto era brincar com as primas: “Colocava as pulseiras delas, encurtava meu short, dobrava a camiseta. Me sentia como elas”.
Nos anos seguintes, frequentou igrejas evangélicas e não se encaixou: “Fui bem tratada em todas, mas não para ficar, para frequentar. Eu teria que me curar se quisesse fazer parte”, disse, usando o termo “cura” para se referir ao abandono da prática homossexual.
Hoje, frequentando uma Igreja Pentecostal Anabatista, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, a maquiadora de celebridades ensaia um passo em direção ao sacerdócio dentro da teologia inclusiva.
“Não me importa o título que venha a ter. Hoje já tenho meu ministério, vou aos encontros de jovens. Não levanto a bandeira LGBT ou a bandeira evangélica. Levanto a bandeira do ser humano. Quero que outras pessoas se sintam como eu: respeitadas por serem quem são”, disse, expondo o conceito humanista que constrói os argumentos da teologia inclusiva.
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A mudança que vem se submetendo, por enquanto, é estética, com cirurgias de implante de próteses de silicone nos seios e procedimentos no rosto: “Me olho muito no espelho, faço muitas fotos até para ver as transformações pelas quais eu passo. Óbvio que ficaria ótimo ter uma vagina. Mas não me agride ter um pênis. Não penso nisso agora”, disse.
“Existe algo muito maior que tudo isso. Hoje posso dar meu testemunho e tocar outras pessoas na mesma condição em que já estive. Não quero esquecer quem eu fui. Para me amar tem que amar a minha história assim como Deus me criou”, concluiu.