As iniciativas para inserir crianças no mundo adulto através da nudez não são aleatórias ou casuais. Uma campanha de um museu de Paris, feita há dois anos e retomada agora, após a polêmica com a performance de um artista nu rodeado de crianças, é um exemplo.
Os museus d’Orsay e da Orangerie, em Paris, a pretexto de atrair famílias para suas exposições, estão relançando uma campanha publicitária em que exibem pinturas de artistas renomados que retratam o corpo humano nu, com a seguinte legenda: “Tragam seus filhos para ver gente nua”.
De acordo com informações da emissora francesa RFI, no total a campanha utiliza nove cartazes, “exibidos em ruas, paradas de ônibus e metrôs de Paris”, com obras célebres dos dois museus.
Dentre os cartazes divulgados, a peça que mais teve maior repercussão é que mostra a tela “Femme Nue Couchée” (“Mulher Nua Deitada”), produzida em 1907 pelo pintor francês Auguste Renoir, mostrando uma uma jovem deitada em uma cama com os seios à mostra.
“A campanha foi muito bem recebida pelo público, apreciada e reproduzida. Não houve nenhuma polêmica em relação a ela”, alega Amélie Hardivillier, diretora de comunicação dos museus.
Brasil
A reportagem da emissora repercutiu os protestos que aconteceram nas últimas semanas no Brasil, sob o ponto de vista dos defensores da mostra “Queermuseu”, em Porto Alegre (RS), e “La Bête”, com o coreógrafo Wagner Schwartz se apresentando nu para crianças, em São Paulo (SP) e Salvador (BA).
“Sei que São Paulo é palco de belas exposições. É muito grave essa situação. Fico triste com essa notícia”, afirmou Amélie, comentando a suposta censura contra as obras de arte em questão. A reportagem, traduzida pelo G1, não faz qualquer menção ao fato de que os protestos contrários se baseiam na legislação vigente no país que proíbe a exposição de crianças à pornografia, por exemplo.
A artista Fabrícia Martins, brasileira que vive na França, também foi ouvida pela reportagem e criticou a postura conservadora de muitos brasileiros, dizendo que o coreógrafo carioca Wagner Schwartz estaria “abaladíssimo, em estado de choque” com a repercussão, pois estaria sendo “alvo de ameaças”.
“A liberdade artística está virando moeda das próximas eleições. A performance de Wagner Schwartz viralizou na internet devido a um vídeo descontextualizado e pessoas que nunca foram ao museu o viram e se chocaram. Os políticos estão tirando proveito disso. A extrema-direita está encabeçando essa espécie de caça às bruxas na classe artística”, minimizou Fabrícia Martins.
Ao final, Fabrícia apontou os culpados: “A sociedade brasileira é extremamente erotizada. O Brasil é o quarto país no mundo onde mais são realizados casamentos com menores de idade. E a gente sabe que a pedofilia no Brasil acontece sobretudo nas famílias. Então trabalhos como os de Wagner Schwartz são potentes porque trazem à tona esse imaginário camuflado”, acusou, sem mencionar fontes para o dado relativo a casamentos.