O incendiário que confessou ter incendiado três templos de igrejas batistas da comunidade negra em Louisiana (EUA) foi condenado em um tribunal federal a 25 anos de prisão por danos intencionais a propriedades religiosas, considerado um crime de ódio na legislação local.
Os crimes, cometidos entre março e abril de 2019, poderiam render 70 anos de cadeia, caso as penas máximas fossem aplicadas. Os promotores pediram uma pena mínima de 30 anos, mas o juiz Robert Summerhays deu crédito ao incendiário, Holden Matthews, pelos 18 meses cumpridos desde sua prisão.
Agora, ele tem 23 anos e meio pela frente para cumprir sua sentença. O tribunal também determinou que Matthews deve pagar US$ 590 mil à Igreja Batista Saint Mary; US$ 970 mil à Igreja Batista Greater Union; e US$ 1,1 milhão para a Igreja Batista Mount Pleasant em restituição pelos danos causados.
O portal local The Acadiana Advocate noticiou que o juiz determinou que após o cumprimento da pena, Matthews – que é músico de black metal – será obrigado a participar de tratamento de saúde mental e abuso de substâncias, registrar-se como incendiário, abster-se de posse de drogas e evitar atividades criminosas.
“Não preciso ficar aqui sentado enfatizando a seriedade desses crimes… Esse crime é mais do que o crime de um incendiário tirando a propriedade de outra pessoa”, comentou o juiz Summerhays, acrescentando que embora os incêndios criminosos não fossem considerados racialmente motivados, ele teve que considerar que os incêndios causaram a sensação aos fiéis das igrejas de que estavam de volta a uma época sombria de discriminação racial e terror.
O juiz disse que o músico teve sorte de também considerar seu histórico na sentença, e não apenas o impacto dos crimes. Ele disse que simpatizava com os esforços de Matthews para ser aceito socialmente e seu envolvimento em uma corrente perigosa da cena black metal, mas no final das contas as ações de Matthews foram tomadas com conhecimento de causa.
Dirigindo-se ao tribunal e aos fiéis pela primeira vez, Holden Matthews disse que sentia profundamente por suas ações e queria que as comunidades da igreja soubessem que ele encontrou sua fé em Deus novamente: “Não há palavras suficientes na língua inglesa para dizer o quanto eu sinto. Se eu pudesse voltar atrás e mudar isso, eu… Eu não apenas magoei minha família e amigos verdadeiros, mas também magoei meus irmãos e irmãs em Cristo”, declarou.
Ceticismo
Alguns dos fiéis, considerados as vítimas dos crimes, disseram após a audiência que estavam céticas sobre o retorno de Matthews a Cristo depois que três ligações gravadas entre Matthews e seus pais na semana passada foram apresentadas como evidência. A nova evidência fez com que a audiência inicial da sentença fosse adiada.
O promotor federal John Luke Walker disse que as ligações capturaram Matthews falando com seus pais, referindo-se à possibilidade de escapar se ele recebesse uma longa sentença e expressando frustração e desagrado com o depoimento de membros da igreja na sexta-feira, em um ponto se referindo a eles como “bastardos”.
Walker também mencionou uma conversa entre Matthews e seu pai, um xerife da região onde a família vive, sobre a possibilidade de ele ser alojado na prisão regional e provavelmente participar de um programa de reabilitação de detentos. Ele argumentou que as ligações mostram que Matthews não aceitou a realidade de sua punição ou ações.
“A defesa dirá que este é um momento no tempo há um ano. Não é um momento no tempo. Com base nesses telefonemas, ele é exatamente a mesma pessoa que incendiou aquelas igrejas”, argumentou o promotor.
O advogado do músico, Dustin Talbot, recuou, dizendo que esses telefonemas eram uma expressão do estresse e da frustração de Matthews e que referências específicas, como a menção de uma fuga, eram piadas não baseadas na realidade. O advogado acrescentou ainda que seu cliente foi mantido sob custódia protetora, com apenas uma hora por dia de banho de sol, e as ligações refletiam suas tentativas de entender a realidade em que tinha se envolvido.
“Matthews disse algumas coisas “rudes” e sua linguagem nem sempre foi apropriada, mas foi uma interação crua enquanto ele enfrentava totalmente a perda de sua liberdade”, disse o advogado. Talbot disse que o músico obedeceu durante todo o processo legal e afirmou que acreditava que ele havia se reconciliado com Deus por conta de suas expressões de remorso e autorreflexão.
“É difícil acreditar que você se transformou, não que Deus não possa fazer mudanças porque Deus pode fazer tudo o que Ele tem o poder de fazer, mas dizer que você mudou tão rapidamente quando esses telefonemas foram feitos um ou dois dias antes… ”, disse Sheryl Richard, membro de uma das igrejas destruídas. “Nunca me regozijarei com a queda de alguém e continuarei a orar pelo jovem e continuarei a orar por sua família”, acrescentou ela.
Holden Matthews também foi condenado por três acusações de crimes de ódio estaduais, duas acusações de incêndio criminoso simples de um edifício religioso.