Silas Malafaia se defendeu da reclamação do presidente Jair Bolsonaro sobre o desejo de emplacar o nome do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em um longo vídeo que citou inclusive os nomes dos juristas evangélicos que pastores e outros líderes sugeriram ao mandatário.
Reiterando sua crítica à escolha do desembargador Kassio Nunes Marques, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo afirmou ter lealdade ao presidente, mas não ser “subserviente”, e citou Provérbios 27:6: “Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos”.
“Não idolatro homens. Eu adoro a Deus, acredito em homens e não confio 100% em homem nenhum. Nós não podemos prestar culto à personalidade igual a esquerda faz, que nega a Deus, mas cultua personalidade. O único que não é criticado é Deus, que é perfeito em todos os seus caminhos”, introduziu o pastor.
Em seguida, Malafaia compartilhou detalhes da articulação que fez entre lideranças evangélicas para selecionar nomes que pudessem ser sugeridos para a vaga: “Conversando com vários líderes [propus] ‘vamos indicar aí alguns nomes para o presidente? O André Mendonça já é dele e não precisa estar nessa lista’. Liguei para o deputado Silas Câmara, presidente da Frente Parlamentar [Evangélica], porque entendo a participação importante dos deputados, comentei com ele, e ele falou ‘boa ideia, pastor’”, contou.
“Surgiram três nomes. Eu não queria dizer isso agora. Três nomes de uma lista tríplice para ser enviada para o presidente. São esses os nomes: Jackson di Domenico, advogado, foi desembargador eleitoral entre 2017 e 2019; José Eduardo Sabo Paes, membro do Ministério Público Federal de Brasília; e William Douglas, juiz federal”, enumerou Malafaia.
“Pegamos essa lista tríplice, eu e o apóstolo César Augusto – é o segundo nome que estou dando – e eu peço uma audiência ao presidente. Ele me atende. Chego lá e digo ‘presidente, eu não quero que o senhor saiba por ninguém: em primeira mão, 95% da liderança evangélica, os tops da liderança, estão assinando aqui uma listra tríplice para encaminhar para o senhor, porque o senhor disse que ia encaminhar um cara terrivelmente evangélico’”, acrescentou.
A negativa
A reação de Bolsonaro, segundo Malafaia, foi explicar que sua promessa de indicar um jurista evangélico ficaria para 2021: “O presidente chega e diz assim: ‘A primeira vaga não vai ser de um terrivelmente evangélico. Tenho que botar alguém que eu tenho que ter confiança, devido a tudo isso que está acontecendo’. Na hora, eu não fiz nenhum questionamento. Deus é testemunha, César Augusto é testemunha. Eu poderia questionar, tenho amizade. ‘Não, presidente, o senhor falou de um terrivelmente evangélico’. […] Não fiz nenhum questionamento. Eu entendi”.
“Um jornalista da CNN que me viu no Palácio, até um grande jornalista, ficou três dias em cima de mim. Isso aconteceu há mais de 30 dias, quando ninguém sabia de nada. […] Não respondi nada. Aí na CNN ele diz que eu levei uma lista para apoiar William Douglas”, pontuou o pastor, indicando que tentaram extrair dele os detalhes da audiência com o presidente.
Para Silas Malafaia, Bolsonaro pode ter entendido o gesto de maneira equivocada: “Eu não sou criança. Eu tenho intimidade para falar coisas com o presidente, mas eu sei que isso ultrapassa os limites da intimidade que eu tenho com o presidente. Eu apoiei a lista tríplice e disse lá na hora para o presidente que William Douglas, dos 95% que assinaram, 90% eram a favor dele. […] Quando eu saí do Palácio, eu comuniquei a pelo menos dez líderes. ‘Olha, gente, temos que entender. A primeira vaga é o presidente que vai escolher. A segunda ele disse que vai ser alguém terrivelmente evangélico’”, defendeu-se.
“Dou os nomes: Renê Terra Nova, Samuel Câmara, Rina, Abe Huber, JB, Victor Hugo, Estevam Hernandes e Abner Ferreira. São testemunhas. Perguntem a eles. Tem mais uma: disse, para mais de um jornalista. Perguntem à jornalista de O Globo, Paula Ferreira […] Eu disse a ela ‘filha, você vai quebrar a cara, não vai ser agora um terrivelmente evangélico, vai ser alguém do presidente, isso vai ficar para a segunda vaga. Não publique bobagem’. Se eu queria que fosse um cara meu, porque eu tava dando essas informações?”, questionou.
Por fim, dizendo-se ciente de que a indicação atual não seria de alguém ligado às igrejas evangélicas, o pastor contou que sugeriu a Bolsonaro um gesto para acalmar os ânimos: “Há dez dias eu dei uma dica para o presidente: ‘Quando o senhor indicar um ministro, como o senhor falou muitas vezes que ia colocar um terrivelmente evangélico, a liderança, o povo evangélico espera isso. Então, quando o senhor for indicar, diga que a segunda vaga vai ser de um terrivelmente evangélico’. O presidente acatou a minha sugestão e deu a dica. Como é que eu estava querendo impor alguém meu?”, reiterou.