A opção por técnicas heterodoxas de pregação da Palavra não costuma ter finais felizes, muito em parte pelo choque e indignação causados em quem ouve. Um pastor na cidade de Pataskala, Ohio (EUA) descobriu isso na prática, recentemente, em um sermão sobre a Páscoa.
Um vídeo dele durante uma reunião voltada para pré-adolescentes, estimulando que os jovens batessem, cuspissem e até o agredissem com uma faca circulou nas redes sociais. A ideia do pastor auxiliar Jaddeus Dempsey, da Impact City Church, era ilustrar o sofrimento e humilhação vividos por Jesus nos momentos que antecederam sua crucificação, mas o foco da opinião pública foi outro.
Na gravação da mensagem compartilhada no Facebook, o pastor Dempsey não esboça qualquer reação enquanto recebe cusparadas e tapas. Em seguida, ele remove sua camisa e pega uma faca e oferece a um dos garotos e diz a ele para cortá-lo “suavemente”. Este pedido, no entanto, foi recebido com incredulidade pelo jovem: “Você está falando sério?”, questionou.
O pastor insistiu que ele fosse cortado, no entanto, até que um dos meninos se aproximasse e puxasse a lâmina pelas costas.
Um dos pais, cujo filho aparece no vídeo, disse que recebeu um telefonema de uma amiga avisando-a sobre o que estava acontecendo na igreja. “O cara que está no vídeo se vira e pega a faca e entrega ao meu filho”, queixou-se a mãe em entrevista à emissora 10TV.
Ela disse que ela e seu marido Josh correram para a igreja para pegar seu filho porque acharam o evento inapropriado. “Ele estava perturbado. Ele achou que estava em apuros. [Só se acalmou] quando eu expliquei para ele que não estava chateada com ele, e só queria que ele soubesse que as coisas que aconteceram aqui não foram legais”, disse o pai do menino.
O pastor principal da igreja, Justin Ross, precisou vir a público acalmar os ânimos. Em um vídeo ao lado do pastor Dempsey, ele se desculpou pelo incidente, dizendo que a reunião tinha sido realizada “depois do horário escolar” dos alunos que frequentam a escola da igreja.
“Todas as segundas-feiras, convidamos os alunos a atravessar a rua, um lugar onde eles podem encontrar seus amigos. Nós fornecemos atividades para eles, nós os alimentamos. Como parte desse programa, também levamos cinco minutos para fazer um depósito de fé nos alunos. Uma chance de compartilharmos a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo”, afirmou Ross, de acordo com informações do portal The Christian Post.
Dempsey, que escolheu discutir a mensagem da Páscoa na segunda-feira, levou as coisas um pouco longe demais, disse o pastor Ross: “Ele escolheu usar uma ilustração para explicar um tópico muito importante sobre a crucificação, mas a ilustração foi longe demais e foi inadequada para o público que tivemos”, admitiu o pastor titular.
No entanto, Ross afirmou que o que ocorreu não foi descontextualizado: “[Dempsey] se levantou na frente de seus alunos e disse: ‘Eu vou pedir para você fazer algo que possa parecer um pouco louco, mas se houver alguém aqui que gostaria de cuspir na minha cara você pode fazer isso sem qualquer consequência. Os estudantes foram pegos de surpresa. Alguns ficaram empolgados com isso, pois nunca tiveram a oportunidade de cuspir no rosto de alguém e vários alunos aceitaram”, disse ele.
O processo foi repetido com a oferta de dar um tapa no rosto de Dempsey e cortá-lo com a faca.
“As reações são apropriadas. Muitos de vocês ficaram enojados, muitos de vocês ficaram feridos por isso, muitos de vocês ficaram muito confusos. Por que isso estaria ocorrendo em uma igreja, em um grupo de jovens? E nós concordamos, foi inapropriado para esse público. E não há realmente nenhuma desculpa para o que aconteceu”, acrescentou o pastor Ross.
Ele argumentou, no entanto, que a intenção por trás do exercício é importante: “Esta parte não foi publicada nas mídias sociais. Depois que Jaddeus permitiu que eles cuspissem nele, o esbofeteassem e o cortassem, ele os sentou e explicou a eles sobre esse sujeito chamado Jesus, que há milhares de anos, foi levado a julgamento por um crime que não cometeu”, disse Ross.
“E ele foi espancado, foi quebrado, foi açoitado. Ele foi crucificado. Ele morreu como um homem inocente. Acreditamos que Jesus tinha o poder em qualquer momento para impedi-los. Para impedir aqueles que o estavam ferindo. Mas Ele escolheu permitir que isso acontecesse […] a fim de receber o pagamento de nossa dívida a que chamamos pecado”, acrescentou.
No final do vídeo, o pastor Dempsey assumiu total responsabilidade por suas ações e pediu desculpas à comunidade da igreja por seu “mau julgamento”: “Sinto muito pela dor que causei”, lamentou.