A defesa da tese de que cristãos devam necessariamente votar em cristãos é feita por setores da comunidade, e combatida por outros líderes, que defendem o princípio de que o voto deve ser confiado ao candidato com as melhores propostas para a sociedade.
O pastor Luciano Subirá, líder da Comunidade Alcance em Curitiba (PR) e idealizador do Ministério Orvalho, concedeu uma entrevista recentemente e se posicionou como integrante do segundo grupo descrito acima.
“Crente é o mínimo que ele tem que ser”, afirmou o pastor sobre os candidatos evangélicos que se lançam na política, e deixando claro que apenas fazer parte de uma igreja não é suficiente para um candidato obter votos dos fiéis.
“Durante muito tempo a gente separou o ser cristão do ser cidadão, como se envolver-se com política fosse coisa do mundo e criamos uma cultura de não se misturar, pelo menos para uma grande maioria. Estou pastoreando há mais de 20 anos e nunca tinha me posicionado com a atitude de declarar apoio a algum candidato. Creio que o cristão precisa se envolver com a política, mas como líder, quando alguém sinaliza pro lado da política partidária é complicado porque pessoas do rebanho podem ter outro partido e ideologia, então sempre me guardei. Esse ano eu manifestei apoio a um candidato presidenciável porque todo mundo pergunta e eu não faria isso no púlpito, então fiz na rede social dizendo que ali não era o pastor, mas o cidadão falando. Eu fique surpreso com a reação. Eu me dei ao luxo de visitar as páginas pessoais das pessoas que criticaram e vi que eles eram de outros partidos, então eu não levei sério a consideração deles porque eles sentiram que eu estava indo contra o que eles apoiavam”, afirmou Subirá ao portal Guia-me.
O pastor também lamentou a alienação social e histórica a que muitos evangélicos se submetem: “Eu ainda me assusto com essa pobreza de mentalidade que temos em relação à cidadania, a lutar pelo que se deve, como se fossem coisas que não temos que fazer. No passado, os cristãos construíram muitas das sociedades que fizeram diferença com os valores da Palavra”, pontuou o pastor.
Subirá lembrou ainda que embora a espiritualidade seja algo inerente ao cristão, não é suficiente para um candidato evangélico merecer o voto do rebanho:
“Para alguns isso é o máximo, se for crente já está bom, mas, pra mim, esse é o mínimo. Olho para candidatos que nunca fizeram nada por ninguém a vida inteira, mas de repente, tem chamado e vocação. Vejo que muita gente, quando vota em cristãos está perdendo o voto porque alguns deles não vão viver os valores cristãos lá e ainda vão difamar o Evangelho. Temos que ter critério. Além de não fantasiar, afinal se tivermos um presidente cristão, ele não vai ser um ditador cristão e criar a lei que todo mundo tem que ir ao culto, todo mundo tem que converter. Não existe isso. Parece que os cristãos imaginam que tem que ter algo que nos favoreça em detrimento dos demais, o que também não é correto. Jesus disse que Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos. Ou seja, alguns direitos são da humanidade no geral, não importa a fé que todos tenham. O governante que estiver lá também vai defender interesses de quem pensa de outra forma”, concluiu o pastor.