A recente morte de dois pastores evangélicos pentecostais por suicídio chocou o meio cristão brasileiro, levantando inúmeros debates a respeito do tema e questões que cercam tais áreas. A respeito disso, o pastor Wesley Carvalho produziu um artigo falando sobre o que significa o sacerdócio por trás das cortinas.
A vida de um pastor, afirma Carvalho, é cercada de situações comuns a qualquer ser humano, com as alegrias e angústias que cercam a todas as famílias. Porém, destaca o autor, há sempre a expectativa que a conduta de um pastor seja inabalável e impecável, que os fiéis não tomem conhecimento dessas dores e que o líder tenha forças para guiar o rebanho.
Confira a íntegra do artigo “Porque pastores se suicidam?”, escrito pelo pastor Wesley Carvalho e publicado no portal JM Notícia:
Porque pastores se suicidam? Eu respondo! Antes de qualquer coisa, não é justificativa; o suicídio é injustificável.
Em primeiro lugar, meu objetivo aqui é atingir dois públicos; a igreja e os pastores. Ser pastor não é profissão, embora muitos pensam que é. Mas há pesquisas que afirmam que é uma das profissões mais tensas que existe.
Os que estão de fora do nosso universo pensam que vida de pastor é regalia, luxo, ou coisas do tipo. Não, não é.
Pastor é ser humano, mas um ser humano travestido de “Chapolim Colorado”, ou seja, salva a todos sem ter ninguém que o defenda. Gente, pastor chora, peca, erra, precisa de carinho, precisa de visita, depende de oração, necessita de ajuda. Mas a igreja, a sociedade, nunca espera que esse pastor exista, ela quer um pastor como um herói das “estórias” de quadrinho, ESSE PASTOR NÃO EXISTE.
Na verdade, somos heróis mesmo, porque somente heróis amam sem esperar serem amados, trabalham sem esperar recompensa, sacrificam a família, o tempo, a vida, em prol de vidas.
Os conflitos da vida de um pastor são inúmeros; imaginem vocês trabalharem a vida toda, sem direito a aposentadoria, alguns poucos “privilegiados” tem direito à jubilação, a maioria não.
Pastor não tem amigos, se ele se abre com alguém, amanhã esse alguém abre a sua vida o expondo, e a reação da igreja é essa; ” nossa nunca pensei que o pastor fosse essa pessoa”! Ou seja, nós não podemos ter defeitos, fraquezas ou coisas do tipo.
Pastor não pode envolver a família com os problemas da igreja… E diga- se de passagem, a maioria das esposas de pastor são depressivas ou tem problemas com insônia, síndrome do pânico ou coisas afins.
Pastor não tem direito a plano de saúde, apenas alguns. Pastor não se aposenta como pastor, apenas alguns jubilam pela igreja. Filhos de pastor não podem errar, afinal de contas, são filhos de pastores. Pastor não vive, vegeta.
Se sorrir é moleque, se não, é carrancudo. Se acorda cedo, não fez vigília, se acorda tarde, é preguiçoso. Se tem pulso é carrasco, se é manso é relapso. Os filhos de todo mundo pecam, mas se os do pastor pecarem…
Vou falar algo que muita gente não irá acreditar, mas falarei mesmo assim; há milhares e milhares de pastores que vivem de cesta básica, pagam para dirigir igreja, não tem uma remuneração adequada. Esperar o que de um homem desse? Que ele seja um super homem, um mapa da mina para a vida de milhares de pessoas? Não, pastor precisa ser amado, compreendido.
Sou pastor, pai de família, tenho uma esposa linda, duas filhas maravilhosas, mas decidi me humanizar. Não serei mais um. Choro na frente delas, desabafo com minha companheira, ouço elas.
Pastores do Brasil, vocês são gente, seres humanos. Viagem com a família, a igreja não fechará as portas porque você saiu. Procurem ajuda de psicólogos se for preciso. Tirem férias. Tenham mentores espirituais. Sejam humanos.
Igreja, socorra seus pastores!
Oro a Deus pelos companheiros que estão vivos, porque esses que se mataram, a conversa que ouviremos é que eles são fracos, covardes, porque tiraram a própria vida, ou seja, tudo o que fizeram caiu no esquecimento, afinal de contas, são pastores!