A história de vida de Simone Soares cruzou com a do médium João de Deus, também conhecido como “João de Abadiânia”, preso preventivamente desde 16 de dezembro de 2018, acusado de ter cometido vários abusos sexuais contra mulheres que iam lhe procurar no centro espírita onde atuava como curandeiro.
“Quando chegamos lá, João falou para minha tia que eu e minhas irmãs éramos médiuns e passei a realizar atividades na casa, como segurar materiais usados na enfermaria”, disse ela.
Na época Simone tinha 13 anos. “Ele abriu a calça, tirou minha blusa e tocou em mim. Não houve estupro, mas ele fez o que quis. Me senti muito mal, mas tinha medo de denunciar uma entidade, como ele era considerado”, lembra.
Mas infelizmente os traumas de Simone não iniciaram no encontro com o médium. Ela teve a sua mãe assassinada pelo próprio pai quando ainda era bebê. Alcoólatra, o homem matou a esposa por ciúmes.
“Meu pai era policial e matou minha mãe num Natal, quando ela tinha 23 anos. Aconteceu na casa onde morávamos, em Vitória da Conquista (BA)”, contou a pastora.
O pai de Simone chegou a ser preso na época, mas conseguiu responder ao processo em liberdade. Só após alguns anos ela foi morar com a tia em Anápolis, onde foi parar na Casa de Dom Inácio de Loyola em Abadiânia a procura da cura de uma cegueira parcial para o seu tio.
Conversão
Simone Soares se converteu aos 17 anos em uma igreja evangélica. Na época ela voltou para Abadiânia para confrontar João de Deus, mas foi ameaçada no local. “Eu estava deprimida, não saía da cama. Mas, cinco anos depois, acabei voltando”, disse ela.
“Era como se algo me puxasse para aquele local. Aos 17, resolvi reencontrar o João para conversar com ele e tentar impedir que ele abusasse de outras vítimas. Mas ele veio para cima de mim, e o empurrei. Minutos depois, veio um segurança dele, apontou uma arma para mim e me mandou sair de lá”, contou.
Simone contou que aos 21 anos procurou ajuda para denunciar João de Deus, mas encontrou muitas dificuldades, incluindo a dos próprios parentes. Ela chegou a escrever um livro chamado “O Que Deus Fez Por Mim”, onde conta a sua história.
“Não queriam que eu o denunciasse. Mas ano passado consegui publicá-lo. Quando contei para a minha família toda a verdade, disseram que eu queria aparecer. Então, não tive apoio para seguir com a denúncia”, disse ela, segundo informações do UOL.
Após a prisão de João de Deus, Simone também procurou novamente a delegacia e contou o seu testemunho. “Contei tudo. Minhas irmãs, hoje com 45 e 43, também foram abusadas pelo João de Deus, mas preferem não tocar no assunto”, disse ela.
Atualmente Simone é a pastora do Ministério Tabernáculo do Avivamento e está reunindo recurso para construir um abrigo para mulheres vítimas de abuso sexual e violência doméstica.
“O objetivo é acolher vítimas de violência. Muitas me procuram para falar sobre isso, fazer denúncias, então senti que precisava ter esse espaço. Preciso de parceria com empresas e psicólogas para atendê-las. Já tenho o terreno e muito material foi doado. Começamos a construir, mas não temos previsão de inauguração”, disse ela.