O segundo turno das eleições em São Paulo e Rio de Janeiro obrigou pastores e outras lideranças evangélicas que costumam se envolver com a política de maneira direta a redefinirem seus apoios aos candidatos.
A saída de Celso Russomanno da disputa em São Paulo e o fraco desempenho de Marcelo Crivella (ambos do Republicanos) nas pesquisas de intenção de voto no Rio de Janeiro motivaram mudanças de postura dos religiosos nas duas cidades.
Bruno Covas (PSDB) conseguiu atrair apoio de lideranças evangélicas tradicionais contra Guilherme Boulos (PSOL), uma vez que o segundo é visto como um radical por ter liderado invasões a propriedades no passado e por fazer parte de um partido que se assume de extrema esquerda, com plataformas de apoio ao aborto, legalização de drogas e ideologia de gênero, entre outras pautas.
No Rio de Janeiro, o cenário é mais complexo, já que Crivella – bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus – contou com apoio de parte das lideranças evangélicas da cidade no primeiro turno, à exceção do pastor Silas Malafaia, que decidiu se abster por se considerar amigo tanto do prefeito que tenta a reeleição, como de Eduardo Paes (DEM).
Os dois candidatos estiveram em igrejas nas regiões de Madureira, Campo Grande e Barra da Tijuca. Como não podem pedir votos dentro dos templos, nas vezes que compareceram nos cultos receberam orações dos pastores.
De acordo com informações do jornal O Globo, Eduardo Paes, que não é evangélico, foi convidado pelo bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira, a participar de um culto de Santa Ceia.
Já Crivella se encontrou com pastores na Barra da Tijuca, no último sábado, 21 de novembro, e pediu ajuda para virar o jogo contra o adversário, solicitando que os líderes pedissem voto em seu nome na porta de suas igrejas, o que é permitido pela legislação eleitoral.
Debandada
O presidente Jair Bolsonaro apoiou Crivella no primeiro turno, mas recusou um pedido do bispo para ir à cidade no segundo turno. Diante disso, lideranças evangélicas que chegaram a gravar vídeos de apoio a Crivella, como o missionário R.R. Soares, fundador Igreja Internacional da Graça de Deus, recuaram.
R. R. Soares até autorizou o uso de um vídeo seu de apoio a Crivella, gravado em 2017, mas avisou, através de aliados, que não gravará novamente. Outro reticente é Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, que desistiu de gravar um vídeo pedindo voto para Crivella por temer uma derrota.
“O voto evangélico não garante a eleição do Crivella. Foi suficiente para colocá-lo no segundo turno, mas não para definir”, comentou o professor José Eustáquio Alves, doutor em demografia pela UFMG.
Malafaia x Boulos
Enquanto Silas Malafaia se mantém neutro no Rio, seu irmão, o deputado estadual Samuel Malafaia (DEM), já declarou apoio a Paes. Em São Paulo, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) se dedica a gravar vídeos aconselhando fiéis a não votarem em Boulos, justamente por conta do extremismo à esquerda.
Outras lideranças evangélicas da capital paulista, como das igrejas Assembleia de Deus Ministério Belém e Ministério Madureira, assim como fiéis da Igreja Universal, passaram a pedir votos em Bruno Covas, que já contava com apoio de oito dos onze vereadores evangélicos da cidade.
O presidente da Câmara Municipal, Eduardo Tuma (PSDB), foi o responsável por aproximar Covas dos pastores, após um gesto do prefeito, que aprovou uma resolução que desburocratiza os pedidos de isenção de IPTU para templos religiosos, benefício garantido na Constituição Federal.