Durante eventos como o Rock in Rio, que agremiam multidão e são vistos por muitos evangélicos como ambientes impróprios para cristãos, é comum vermos pastores e outros líderes evangélicos se apresentarem contra o acontecimento, ou até mesmo indo aos locais de show para evangelizar.
Porém, dois pastores brasileiros chamaram atenção por terem ido ao Rock in Rio com o simples objetivo de assistir aos shows e “curtir” a música tocada pelas diversas bandas presentes no evento, muitas delas rotuladas como “satânicas” por muitos cristãos.
Um dos pastores a irem ao evento e ainda relatar sua experiência foi Fabricio Cunha, pastor da igreja Comunidade Batista Vida Nova, em São Paulo. Em seu blog, Cunha publicou um texto intitulado “Obrigado, Senhor, pelo Rock’n Rio”, onde conta sua experiência com o evento.
Em seu relato, Fabrício Cunha conta sua experiência com o Rock desde a adolescência e sobre como sua criação em uma família cristã fez com que ele fosse obrigado a ouvir esse tipo de música escondido durante muito tempo. Ele relatou também sobre as pessoas presentes no Rock in Rio, afirmando se tratar de uma mistura de gerações que formava uma grande cidade, bonita e organizada.
– No meio de tanta gente assim, como cumprir o chamado bonito de ser sal e luz? Sendo gente, sendo cordial, inclusivo, agradável, olhando com amor, sem julgamento, sem condenação, pulando junto, cantando junto, cedendo o lugar pra quem come de pé, olhando com olhos de graça pra toda aquela gente que anda como “ovelhas que não têm pastor – afirmou.
– Mettalica me aproxima de Deus. Bon Jovi me aproxima de quem sou – afirmou ainda o pastor, ao comentar sobre os shows que mais gostou no evento. E completa: “Foi muito louco! Obrigado, Senhor, pelo Rock’n Rio”.
Outro pastor que esteve presente nos shows do Rock in Rio, e que também falou dos presentes no evento como pessoas que “pareciam ovelhas sem pastor” foi Hermes Fernandes, presidente do colégio episcopal da REINA – Igreja do Futuro. Assim como o pastor Fabrício Cunha, Fernandes também conta ter ido ao evento para assistir ao show, no seu caso da banda britânica Iron Maiden.
– Depois de dois cultos para lá de especiais, antes da bênção apostólica anuncio ao povo que eu, meu filho e um grupo de pastores da Reina estaríamos no último show do Rock in Rio, prestigiando a um irmão em Cristo, Nicko Mcbrain, baterista da maior banda de Heavy Metal do mundo, o Iron Maiden – afirma Fernandes no início de seu relato.
Ele revela ainda ter pedido oração aos irmãos de sua igreja, pois estaria exposto a críticas de todo o tipo. Essas críticas, segundo relatou, vieram quando fez uma publicação no Facebook compartilhando sua alegria de estar no evento.
– Alguém me perguntou se minha presença ali tinha objetivo evangelístico. Para muitos, esta seria a única razão que justificaria que um ministro do evangelho estivesse num show de rock. A verdade é que eu estava ali para me divertir ao lado do meu filho e dos meus companheiros de ministério. Curti cada canção do Iron. Foi como tomar um elixir da juventude. – afirmou Fernandes, que relatou ter ficado surpreendido com o clima familiar no evento. Assim como Cunha, ele relatou ter presenciado “um encontro de gerações” onde “avôs, pais e filhos se reuniam para ouvir sua banda predileta”.
– Eu poderia ter levado folhetos evangelísticos para distribuir ali, mas será que funcionaria? Talvez eu pudesse usar isso como álibi ou mesmo para driblar minha consciência. Mas, sinceramente, seria inútil – completou o pastor, que disse ainda: – Parafraseando Paulo, quem não iria a um show de rock, não julgue quem o faça, e quem foi, como eu, não julgue quem jamais iria. O que autentifica nossa fé não são os ambientes que frequentamos, mas o amor que revelamos em qualquer lugar.
Fabrício Cunha também falou sobre evangelismo no evento, mas relatando a maneira, segundo ele equivocada, com que muitos “crentes” abordaram as pessoas para evangelizar. Segundo ele, supostos missionários abordavam as pessoas que chegavam à Cidade do Rock, nome dado ao local do evento, afirmando que nomes da música como Janis Joplin, Jimy Hendrix, Elvis Presley e John Lennon foram para o inferno e que esse destino seria compartilhado por todos que entrassem no Rock in Rio.
– Todo tempo é tempo de evangelizar, mas assim? Do lado de fora? Condenando ao inferno os do “lado de dentro”. Não vi “graça” nenhuma. – refletiu o pastor.
Por Dan Martins, para o Gospel+