Mais uma vez, uma saudação a quem chega a uma cidade tornou-se o centro de uma polêmica entre religiosos. Uma placa, colocada na entrada de Nova Iguaçu (RJ), com a frase “Essa cidade pertence ao Senhor Jesus”, está no centro do debate sobre a laicidade do Estado na esfera municipal.
A placa de boas-vindas a quem chega a Nova Iguaçu foi colocada na avenida Baltimore, próximo à rodovia Presidente Dutra. Nas redes sociais, religiosos adeptos a cultos de origem africana e outros moradores da cidade criticaram a mensagem, e a prefeitura se recusou a comentar a polêmica.
De acordo com informações do jornal Extra, um dos principais críticos é o babalorixá Adailton Moreira, do terreiro Ilê Omiojuáro e coordenador da campanha “Luto na luta contra o racismo religioso”. Para Moreira, a placa é um descaso com quem não é cristão: “É um processo de invisibilidade a outras expressões que compõem o cenário inter-religioso da cidade e, antes de tudo, fere a laicidade do Estado brasileiro”.
Moreira – que é mestrando em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – declarou que “a cidade pertence a cidadãos e cidadãs que cumprem seus deveres e pagam seus impostos”, acrescentando que “um gestor público não pode fazer proselitismo religioso”.
Do lado cristão, o padre Renato Chiera, fundador da Casa do Menor São Miguel Arcanjo, comentou o episódio dizendo que “o Estado não deve casar com nenhuma religião”.
“Dizer que pertence a Jesus soa um pouco pretensioso porque parece querer impor uma religião cristã. Devemos ter cuidado para não sermos intolerantes e radicais como o Estado Islâmico. A tradição cristã pertence às raízes brasileiras, mas o Estado deve ser laico, respeitando todas as religiões”, disse o padre, fazendo comparação com o terrorismo.
Menos extremo, o bispo de Nova Iguaçu, dom Luciano Bergamin, preferiu evitar a polêmica: “Espero que todos os lugares sejam de Jesus. Não quero guerra religiosa nem vou apagar o que está escrito, mas é importante que quem escreveu repeite as religiões dos outros e aqueles que não têm religião”.
Entre os moradores, as opiniões se dividem. A técnica de enfermagem Patrícia de Carvalho, 41 anos, entende que há preocupações mais urgentes em Nova Iguaçu do que fazer placas: “Na cidade, há várias pessoas de outras religiões. Mesmo que estivesse escrito um nome relacionado à minha religião, eu discordaria. A cidade está uma bagunça: violência, ruas que alagam. Então, essa placa é um desrespeito às outras religiões”.
Por outro lado, a evangélica Larissa da Anunciação, 23 anos, feirante, disse que não há ofensas na placa: “Sou suspeita para falar porque sou evangélica desde criança. Mas acho que não ofende ninguém. As outras religiões, independentemente de quais sejam, respeitam Jesus”, concluiu.