A candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) vem causando rebuliço na grande mídia e movimentando cada vez mais pessoas nas redes sociais identificadas com o discurso de valorização da honestidade, combate à corrupção, ideologia de gênero e violência urbana.
Esse último tópico, entretanto, parece acender uma luz de alerta entre as lideranças evangélicas, mesmo entre aqueles que manifestam publicamente seu apoio ao candidato, já que a bandeira de revogação do Estatuto do Desarmamento com o propósito de permitir aos cidadãos a posse – não o porte – de armas em casa, para defesa pessoal, é visto com cautela.
O pastor Luiz Roberto Silvado, presidente da Convenção Batista Brasileira (CBB), disse que as falas mais agressivas de Bolsonaro afastam alguns dos fiéis: “Ele perde muita gente por causa do radicalismo no parlamento, porque existe uma forte influência pacifista no meio evangélico”, disse Silvado.
O pastor batista, no entanto, acredita que as bandeiras conservadoras que Bolsonaro abraça e levanta atrai grande parte da população brasileira, independentemente de religião.
Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), afirmou ser pessoalmente favorável ao Estatuto do Desarmamento, mas ponderou que a postura de Bolsonaro não deverá causar grande celeuma entre evangélicos porque tem visto, entre os fiéis, pessoas com visão alinhada à do candidato e contrária à sua.
À Folha de S. Paulo, Malafaia afirmou que acredita que seria bom que Bolsonaro moderasse o discurso, mas sublinhou que os “valores relacionados à formação da família são mais fortes para esse público”.
O pastor, cantor e senador Magno Malta (PR), convidado para ser vice na chapa de Bolsonaro, também negou que exista radicalismo: “Eu acho que mais radical que Bolsonaro é apoiar corrupto. É apoiar quem está envolvido na Lava Jato”, afirmou.
Outro que vê com a postura agressiva de Bolsonaro com precaução é o apóstolo Cesar Augusto, líder da Igreja Apostólica Fonte da Vida. “Acho que [Bolsonaro] tem dificuldades. Pode até ser brincadeira, mas é de mau gosto ele colocar crianças se posicionando como se estivesse com uma arma na mão”, comentou.
Augusto, no entanto, apontou um adversário de Bolsonaro que poderá herdar parte dos votos evangélicos: “Alckmin também tem posições conservadoras que agradam o evangélico. Ele precisa expor isso mais claramente. A vantagem do Bolsonaro é que ele se posicionou desde o início”, disse, sem mencionar que o ex-governador paulista autorizou a criação de “banheiros trans” nas escolas públicas do estado, uma das bandeiras da ideologia de gênero.
De forma mais cautelosa, o bispo Robson Rodovalho (ex-deputado federal), líder da igreja Sara Nossa Terra e presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil, afirmou que ainda não definiu seu candidato, mas já estabeleceu critérios: apoiará quem defender liberalismo econômico e conceitos tradicionais de família.
“Claro que ele [Bolsonaro] se tornou um dos grandes guardiões no Congresso desses valores e princípios. Eu acho que realmente parte do voto evangélico naturalmente deve fluir para a candidatura do Bolsonaro”, afirmou Rodovalho. Bolsonaro se encaixa nesse perfil, pois definiu o economista Paulo Guedes, internacionalmente respeitado, como seu conselheiro na área econômica e eventual ministro da Fazenda, em caso de vitória nas urnas.
O bispo, porém, discorda que a postura relacionada ao Estatuto do Desarmamento afaste os fiéis: “O evangélico, como toda a sociedade atual, está extremamente indignado com a violência e a inoperância do Estado”, afirmou, argumentando que a sociedade está preparada para rever a legislação nessa área.
Uma demonstração do que disse Rodovalho é o vídeo do cantor André Valadão, que declarou voto em Jair Bolsonaro por suas propostas de firmeza na segurança pública. Em sua fala, sugeriu ainda apoiar a revogação do Estatuto do Desarmamento: “Pra mim é o melhor candidato. Eu acho que ele é o cara do momento, mesmo, que o Brasil precisa para dar um choque, principalmente na área da segurança […] E você poder estar protegido, e se proteger, eu considero isso algo muito importante, mesmo”.