No mesmo dia em que o Brasil ficou perplexo com o massacre ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, município de São Paulo, onde oito pessoas foram mortas covardemente por dois assassinos, muitos ao invés de lamentar o sofrimento das pessoas que perderam seus familiares, preferiram usar a tragédia para fazer insinuações políticas e atacar opositores.
O pastor Ricardo Gondim, por exemplo, que se tornou um notável defensor das ideologias de esquerda e, consequentemente, de uma teologia liberal, usou a sua conta no Twitter para atacar os pastores que apoiam a regulamentação do uso de armas no Brasil.
“Alguns pastores fizeram arminha do púlpito”, escreveu ele. “Em determinada igreja o coral todo fez sinal de arminha enquanto louvava a Jesus; em outra, o telão projetou clip em que uma criança era instruída a apontar o dedinho como revólver”.
Sua postagem dividiu os próprios seguidores, apesar da maioria ter lhe apoiado. “Não tem dia melhor para lembrar está (sic) insanidade das igrejas evangélicas. Darão conta ao verdadeiro Messias”, escreveu um internauta, enquanto outro destacou a crítica oportunista de Gondim.
“É serio que você atribui ao gesto de arminha à barbárie que ocorreu hj?? Ou é coincidência mesmo que justo hj vc fez questão de lembrar?”, rebateu outro seguidor.
Muito além da “arminha”
Nos últimos dez anos, 553 mil pessoas foram vítimas de violência no Brasil, das quais 71,1% foram mortas por armas de fogo, segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Um número absurdo, maior do que o de muitos conflitos militares em regiões do Oriente Médio, por exemplo.
Se trata de um período em que o Brasil foi governado por um partido de esquerda e teve como um dos seus projetos o Estatuto do Desarmamento, aprovado contra o desejo da maioria da população, que rejeitou a proposta em um referendo realizado em 2005.
Tal projeto de desarmamento não evitou que em 2011, por exemplo, um radical islâmico chamado Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, invadisse um colégio público em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e matasse 11 crianças, deixando outras 13 feridas.
Em 2017, outro atentado ocorreu no Colégio Goyases, em Goiânia, quando um atirador de 14 anos matou dois alunos, João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, ambos de 13 anos, em 20 de outubro.
Outro caso também ocorrido no Brasil ficou conhecido como “O Atirador do Cinema”, quando Mateus da Costa Meira, ex-estudante de medicina, usou uma submetralhadora para atirar contra a plateia de uma sala de cinema do shopping center Morumbi Shopping, na cidade de São Paulo, matando três pessoas e ferindo mais quatro, em 1999.
Todos esses casos, além de vários outros, revelam como o problema da violência no Brasil é mais complexo do que qualquer gesto de “arminha” popularizado recentemente, durante a campanha presidencial do ano passado.
Como alertado pela psicóloga Marisa Lobo poucas horas após a tragédia de Suzano, esse é um problema que envolve vários fatores, mas especialmente à educação familiar, cultural e à preservação de valores tão caros aos conservadores, mas tão relativizados pelos que se dizem “progressistas”.