O pastor Ricardo Gondim voltou a fazer duras críticas ao movimento evangélico brasileiro e reiterou seu rompimento com esse grupo, que classificou como um “barco que faz água”.
“As aberrações que esse movimento, que se diz cristão, produz ficam cada dia mais horrorosas. Sua credibilidade está no chão. Não há mais remédio que o salve, ou unguento que o cure. Suas lógicas teológicas se tornaram estranhas, seus posicionamentos políticos, questionáveis e suas posturas éticas, uma vergonha”, escreveu Gondim, em um artigo publicado no último dia 20 de maio.
Gondim tem adotado postura oposta em quase todos os pontos que envolvem o discurso institucional das igrejas evangélicas: é contra a teologia da prosperidade, adota pensamento político de centro-esquerda e é contra a bancada evangélica, e também se opõe ao sincretismo religioso existente em denominações neopentecostais, que no geral, fazem uso de elementos do judaísmo em suas liturgias.
“Há algum tempo, afirmei que não me considero mais parte do movimento evangélico. Causei espanto entre os meus pares. Não volto atrás. Cada dia que passa, quanto mais notícias ruins sobem dos porões denominacionais, e quanto mais o Youtube viraliza piadas sobre o besteirol de seus líderes, mais me convenço de que não sobra, em mim, nenhuma identificação com ele. Pretendo manter-me evangélico por acreditar no Evangelho. Quero, entretanto, distanciar-me do movimento. Já me enxergo em outro acampamento”, acrescentou o pastor, dirigente da Igreja Betesda.
Sobre o que chamou de “auto-excomunhão do movimento evangélico”, o pastor explicou que isso aconteceu por ele “não conseguir conviver com os auto-proclamados ‘teólogos’, que guardam doutrinas e conceitos como verdadeiras vacas sagradas”.
“Alguns leram alguma teologia rala, e se acham aptos para sentar na cadeira de Moisés. Não aceito o clima de caça às bruxas, que apedreja e queima os que ousam mexer nas ‘cláusulas pétreas’ de doutrina produzida por gente falível”, contextualizou.
Ricardo Gondim, favorável à união civil entre pessoas do mesmo sexo, foi enfático ao dizer que vê a igreja evangélica inflexível no que defende: “Não tolero a intolerância. Não engulo a exclusão de gente por questões de gênero ou por identidade sexual. Não me sinto bem com o discurso fundamentalista que se arvora único interprete dos textos sagrados. Acredito que toda interpretação é interpretação. Nada mais. Ninguém – nem Santo Agostinho, nem Calvino, nem Armínio, nem eu mesmo – tem a última palavra a respeito da verdade”, opinou.
Destacando estar fora dos rótulos, Gondim explicou que tem paixão pelo Evangelho e pelos dons espirituais, mas que não consegue associar essas coisas ao desenho de um Deus perseguidor e punidor: “Minha auto-exclusão do mundo evangélico se deve ao fato de eu estar apaixonado por Deus. Minhas premissas, entretanto, são diferentes do movimento. O alicerce que sustenta a minha espiritualidade é estranho à maioria dos que se dizem evangélicos. Estou cada vez mais curioso com as dimensões do divino. Quero nadar nas águas profundas do Espírito. Reconheço, entretanto, que os pastores e crentes, colados no movimento evangélico, não entenderão a minha sede. Tenho ânsia de ler como nunca; de rir como nunca; de dançar como nunca; de orar como nunca. Minha espiritualidade busca leveza. Estou farto da paranóia dos crentes, constantemente encurralados pelo diabo. Não vivo aturdido com pesadelos de que, se der brecha, serei castigado com rigor por um Deus carrancudo”.
Em sua conclusão, Gondim diz que pretende “caminhar humildemente com meu Senhor, rodeado de amigos”, tentando “ser justo” e sustenando “um coração solidário”: “Busco parecer, em meus atos, com o Nazareno. Isso me basta”.