Uma peça de teatro que faz uma sátira ácida em relação às igrejas evangélicas e seria encenada no último sábado, 17 de março, em Mogi Mirim, cidade do interior de São Paulo, foi cancelada.
A peça é baseada no livro O Santo Milagreiro, de Lauro César Muniz, e vinha sendo divulgada com um cartaz que mostrava uma Bíblia com páginas de notas de R$ 100. Os vereadores da cidade, mobilizados por queixas da população, consideraram o cartaz amplamente desrespeitoso e fizeram pressão pelo cancelamento do espetáculo.
Samuel Cavalcante, vereador da cidade, comentou o episódio em sua página no Facebook e afirmou que não apoiava o uso de dinheiro público para o financiamento de manifestações culturais que ofendam religiões.
“Sou totalmente contra esse modelo cultural atual, e vou além, se um dia virar prefeito, eu acabo com essa estrutura cultural”, disse o vereador. “Eu solicitei [o cancelamento] ao prefeito, mas ele já tinha em mente o cancelamento devido cobranças feita por líderes religiosos. A Bíblia é um livro sagrado para nós, cristãos”, acrescentou.
“Eu vivo em um país cristão, uma cidade que 98% dela é cristã. Se algo ofende diretamente os direitos de manifestação de culto e agride a liberdade dos cristãos, estes sim estão sendo prejudicados”, opinou, rebatendo as queixas pelo cancelamento da peça que argumentavam com base no princípio de laicidade do Estado.
O produtor da peça Pequenas Igrejas, Grandes Negócios, Benê Silva, afirma que foi vítima de censura. Na peça, um padre e um pastor usam um milagre como chamariz para atrair mais fiéis e conseguir maiores dízimos e ofertas. Nesse contexto, Silva alega que o espetáculo não era uma crítica direcionada aos cristãos.
“É nossa linha de expressão, nossa arte. Vivemos em um Estado laico, onde a política não deve intervir na religião e a religião não deve intervir na política”, reclamou, esclarecendo que sua produtora decidiu cancelar a peça para minimizar a polêmica.
“Vamos fazer em outra cidade. A gente que lutou tanto contra a censura, ver em pleno 2018 discurso dos anos 1960. Demos um passo atrás para dar dois à frente depois. Sem censura, com muito respeito e sem discriminação”, concluiu, segundo informações do G1.