Um pastor que proibiu a entrada de um transexual nos cultos da igreja que dirige tornou-se o centro de uma polêmica em Vitória (ES).
O transexual, identificado como Mel, é cabeleireiro e acusa o pastor de agredi-lo com empurrões, para que ele deixasse a igreja. O desentendimento com o líder evangélico teria se iniciado há um ano, quando Mel estava no culto e protagonizou uma manifestação de espíritos malignos.
De acordo com informações do G1, o transexual foi à delegacia e registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.), movendo uma ação na Justiça logo em seguida.
Mel afirma que o pastor, além de não permitir a entrada dela na Igreja, não permite que ele compre os livros que são vendidos na porta do templo. Em protesto, ele continua indo à porta da igreja, silenciosamente.
“O pastor queria que eu cortasse meu cabelo, usasse roupas de homens. Eu disse que não é assim, eu não devo obediência ao pastor, se eu sentisse no meu coração que é o que Deus quer, eu faria”, disse, em entrevista.
Sobre as agressões, Mel condenou a atitude do líder evangélico: “Deveriam pregar o amor. Eles estão incitando a violência, como pode? Mesmo com tanta intolerância não é difícil ser crente. Acho que a intolerância deles é por se acharem perfeitos, mas sei que não são. Se ele faz isso comigo, está ensinando os outros membros a fazer”, pontuou.
O imbróglio chegou às autoridades, que acompanham o caso à distância. O gerente de Direitos Humanos da prefeitura de Vitória, Dário Sérgio Coelho, afirmou que a Casa do Cidadão, órgão dedicado a questões envolvendo minorias, está ciente do problema e sugeriu ao transexual que mova um novo processo: “Nós estamos orientando para ela fazer uma nova ação por causa dessa proibição, a Igreja não tem dono e acreditamos que ela tem direito”, afirmou Coelho.
Para o professor de filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Marcelo Martins Barreira, o reconhecimento da dignidade de todas as pessoas respeitando suas especificidades é o que permite que as pessoas convivam democraticamente, e o episódio de agressão foge ao comum.
“Mesmo uma religião conservadora fere seus princípios ao ferir alguém. Um credo deve ser um elemento de enriquecimento da diversidade e não de discriminação. Muitas vezes os discursos religiosos são usados para justificar uma postura sexista e violenta, mas até as igrejas mais tradicionais fazem uma separação entre condenar o pecado e condenar o pecador”, contextualizou.
O pastor foi procurado pela reportagem do G1, mas não respondeu aos contatos por telefone e e-mail para expor seu lado na história.