O Relatório de Liberdade Religiosa Internacional do Departamento de Estado dos EUA destacou a situação de intensa perseguição religiosa que a minúscula população de cristãos – que somados aos judeus, bahais e hindus formam menos de 1% dos habitantes do Iêmen – enfrenta no país situado na extremidade sudoeste da Península da Arábia e que vive os dramas de uma guerra civil.
Muitos dos cristãos (católicos romanos e anglicanos) são refugiados ou residentes estrangeiros temporários. O Islã é a religião oficial do Estado e a Sharia (lei islâmica) é a base de toda a legislação. Embora a constituição do Iêmen permita a liberdade de pensamento e expressão, ela não menciona a liberdade de religião, crença ou consciência.
De acordo com informações do portal The Christian Post, evangelizar os muçulmanos é considerado ilegal e a conversão do Islã para outra religião é a apostasia, uma ofensa punida com pena de morte.
Um pastor entrevistado recentemente chegou a recusar-se a comentar sobre a situação dos cristãos no país, observando que esse é um tema muito sensível para discutir. A Missão Portas Abertas indica que a perseguição que os cristãos enfrentam no Iêmen é “extrema”.
“Eles enfrentam perseguição das autoridades (incluindo detenção e interrogatório), suas famílias e grupos islâmicos radicais os ameaçam de morte se não se reconverterem [ao islamismo]”, observa um relatório da entidade missionária.
“A lei tribal proíbe os membros de deixarem a tribo; a punição por renunciar ao Islã pode ser a morte ou o banimento. Tanto homens como mulheres convertidos ao cristianismo, casados com muçulmanos, se arriscam ao se divorciar, incluindo [o risco de perda da] custódia de seus filhos. Os cristãos sofrem a crise humanitária geral”, acrescenta a Portas Abertas.
“Mas os cristãos iemenitas são também vulneráveis, uma vez que a ajuda de emergência é distribuída principalmente através de organizações islâmicas e mesquitas locais. Estes grupos supostamente discriminam todos os que não são considerados muçulmanos piedosos”, denuncia a entidade.
A cidade portuária de Aden, a capital temporária do Iêmen, tem apenas quatro templos cristãos ainda de pé, três católicos romanos e um anglicano, a Christ Church Aden. Bill Schwartz, arquidiácono da diocese anglicana, que durante oito anos serviu como padre na Arábia Saudita, sustentou que os cristãos não enfrentam perseguição aberta pelo governo, mas ele explicou que “tudo sobre a sociedade (do Iêmen) é [baseado no] islã”.
“Você não tem a liberdade da individualidade – muçulmanos, cristãos, ninguém”, ressaltou. “Você pertence à sua família, sua identidade é sua família. Se você escolher ser diferente da sua família é uma grande vergonha para a família. Quer seja religião, ou escolha de sua profissão, ou campo de estudo, com quem você se casa – ir contra sua família – é extremamente problemático”, ele contextualizou. Dessa forma, participar de um culto público na igreja “seria um problema”.
“Enquanto meu tio não descobrir, eu estou bem”, ele ilustrou, citando uma frase que ouviu por muito tempo. “O problema não é que eles tenham que se esconder, é que eles têm que trabalhar em seus relacionamentos com a família”.
Esse clima de constante tensão e vigilância, às vezes, tem registros de violência, como o do padre católico Tom Uzhunnalil, que foi sequestrado e mantido em cárcere por 18 meses. Na ação, os sequestradores mataram 16 pessoas.
Uma freira chamada Sally, que sobreviveu à ação, descreveu o horrível incidente no site de notícias católico Aleteia: “Eles pegaram a irmã Judith e a irmã Reginette primeiro, amarraram-nas, atiraram na cabeça e esmagaram suas cabeças”, narrou. O padre sequestrado na ocasião foi liberado em setembro de 2017, após rumores de que ele teria sido crucificado.
Mesmo sob tão intensa perseguição, os fiéis membros da Christ Church Aden continuam oferecendo auxílio à comunidade necessitada, incluindo uma cooperação com os muçulmanos na Clínica de Olhos Ras Morbat, que instalou um espaço de atendimento nas dependências da igreja. “O trabalho deles nos últimos 20 anos, especialmente desde e durante os atuais combates, é um testemunho de coragem e cooperação inter-religiosa para o serviço do povo, especialmente daqueles que são pobres e deslocados”, concluiu Schwartz.