Diante da nuvem de especulação sobre as famigeradas “fake news“, o Ibope decidiu perguntar aos entrevistados na pesquisa realizada entre os dias 21 a 23 de outubro se haviam recebido informações falsas através do WhatsApp ou sido influenciados por material de campanha compartilhado no aplicativo. O resultado foi expressivo: 73% negaram episódios desse tipo.
Toda a campanha de segundo turno de Fernando Haddad (PT) foi direcionada para bater na tecla de que o resultado de primeiro turno, quando Jair Bolsonaro (PSL) recebeu 49,2 milhões de votos, foi influenciado por “fake news” que teriam sido disparadas via WhatsApp.
A versão, posteriormente, foi encorajada por uma reportagem da Folha de S. Paulo que afirmou que empresários estariam custeando envio de campanha anti-PT, embora o jornal não tenha apresentado provas.
Nesse contexto, o Ibope resolveu perguntar: “Sem considerar a propaganda eleitoral gratuita, o(a) sr(a) recebeu conteúdo com críticas ou ataques a algum candidato à presidência pelo WhatsApp, na semana que antecedeu a disputa do primeiro turno? (Caso sim) E o(a) sr(a) recebeu conteúdo pelo WhatsApp contra qual(is) candidato(s)?”.
As respostas mostraram que a maioria não recebeu mensagens de agressão a candidatos e que, dentre os que receberam, o conteúdo contra Bolsonaro e Haddad foi similar. Confira:
Não recebeu: 73%
Fernando Haddad (PT): 18%
Jair Bolsonaro (PSL): 18%
Ciro Gomes (PDT): 3%
Marina Silva (Rede): 2%
Não sabe/Não respondeu: 2%
Alvaro Dias (Pode): 1%
Cabo Daciolo (Patriota): 1%
Eymael (DC): 1%
Geraldo Alckmin (PSDB): 1%
Henrique Meirelles (MDB): 1%
João Amoêdo (Novo): 1%
Vera (PSTU): 1%
João Goulart Filho (PPL): 1%
A pesquisa quis saber também se as mensagens enviadas via WhatsApp influenciaram na decisão do voto, e 75% afirmou que “não ajudou”, enquanto 24% admitiram que foram influenciados e não souberam/não responderam, 1%.
“Ainda pensando no conteúdo que recebeu deste(s) candidato(s), o(a) sr(a) verificou ou não verificou se as informações eram verdadeiras?”, insistiu o Ibope, segundo informações do portal G1: 56% disseram “sim, verifiquei”, 43% “não verifiquei” e 1% não souberam/não responderam.
Religião
A pesquisa do Ibope fez um recorte por religião entre os eleitores entrevistados, e mostrou que apesar do aceno de Fernando Haddad ao público evangélico, a liderança de Jair Bolsonaro continua ampla nesse segmento da sociedade.
Entre os católicos, o capitão do Exército continua à frente com uma margem expressiva, mas inferior ao registrado entre os evangélicos. Já no caso de outras religiões, Bolsonaro abriu vantagem sobre Haddad. Confira os números nos infográficos abaixo:
Princípios
A sucursal brasileira da emissora britânica BBC produziu uma extensa reportagem sobre quais são os pontos motivam os evangélicos a votarem em Jair Bolsonaro, já que segundo pesquisa do Datafolha divulgada no dia 18 de outubro mostrou que 71% dos fiéis declara voto no capitão.
“Entre os apoiadores ouvidos pela reportagem, muitos associam o candidato do PSL à perspectiva de ‘resposta’ a algumas mudanças de comportamento ocorridas nos últimos anos, como o crescimento do movimento LGBT, feminismo, discussões de identidade de gênero e novos formatos familiares, como os homoafetivos. Outro argumento recorrente é o de que Bolsonaro seria um exemplo de político ‘ficha limpa’, sem envolvimento em casos de corrupção, em contraponto ao partido de Lula”, aponta a matéria dos jornalistas Leandro Machado e Luiza Franco.
Uma empresária evangélica chamada Sarah Alarcon, membro da Igreja Sara Nossa Terra, foi ouvida pela reportagem e sintetizou seus motivos para votar em Bolsonaro: “Para decidir meu voto, entrei em oração e escutei a Deus. Fiquei pensando no país que quero para o meu filho de nove anos. Não quero que ele aprenda sobre sexo na escola”, pontuou.
Outra evangélica eleitora do candidato conservador, a universitária Vitória dos Santos, 19 anos, discorda do estilo de Bolsonaro ao se expressar, mas tem foco no que ele propõe: “Tenho amigos gays e vejo o desespero deles, mas o PT não dá. Aqui, na Igreja, a gente tem um trabalho de valorização da família”, conceituou, acrescentando que decidiu seu voto em diálogos com familiares, amigos e irmãos na fé.
O vendedor Renato Rodrigues, 38 anos, não esconde que a Igreja, enquanto comunidade, se direciona dentro de um consenso: “Bolsonaro tem padrão cristão, de respeito à família. Ele não quer induzir o homem a ser mulher. Vou seguir meus líderes, [o pastor Silas] Malafaia e [o pastor e deputado federal] Marco Feliciano”, concluiu.
O pastor batista Celso Eranides, que votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, disse que está propenso a votar em Jair Bolsonaro, porque seu círculo social (ele foi aluno de Letras na USP) é formado por acadêmicos petistas e irmãos na fé, bolsonaristas, e a partir desse convívio, a decisão está sendo tomada.
“O que faço? O discurso de Bolsonaro é impositivo, mas o outro lado também é. A ideologia de gênero veio com muita força. Essa turma da esquerda não defende a gente, da família tradicional. Não quero que meu filho de nove anos aprenda sobre sexo na escola”, enfatizou o pastor. “Fico conjecturando… o que é democracia para mim? É alternância de poder. As pessoas falam essa idiotice [de que Bolsonaro representa a tortura], mas o país é outro hoje. Quero acreditar que as instituições funcionam. Não existe mais isso. Odeio militar, acho [que] o discurso deles [esquerda] é idiota. Além disso, Bolsonaro será eleito democraticamente, da mesma forma que um torneiro mecânico foi eleito [Lula]. E acho que Bolsonaro não fica mais de quatro anos”, afirmou, relembrando a intenção do candidato de acabar com a reeleição.
Por fim, um especialista comentou que, embora os fiéis admitam o diálogo entre si e com os líderes, a escolha de um candidato não é automática após receber a recomendação: “Esse eleitorado não segue bovinamente a determinação do seu líder religioso”, disse o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas.