Após um grupo de muçulmanos armados, junto com policiais, ocuparem parte do complexo da Igreja Evangélica Presbiteriana do Sudão (SPEC) em 26 de abril de 2017, a comunidade cristã que estava presente no templo, cerca de 40 membros na ocasião, teve que se defender da forma agressiva como foram tratados, tendo em vista o histórico de perseguição religiosa existente na região e a violência da ação.
Entretanto, quase um ano depois do ocorrido, a justiça sudanesa acusou o grupo de cristãos de cometerem “violência” durante a ação, dizendo que eles causaram “dano físico à polícia e a partidários de um muçulmano de negócios”, informou a organização Portas Abertas.
Na prática, se trata de mais um caso de perseguição religiosa sistêmica. Isto é, quando autoridades governamentais estão envolvidas no processo, como é o caso do poder judiciário.
Outro dado que reforça essa tese é que a SPEC possui uma escola construída em um terreno que o governo deseja adquirir, mas que a Igreja evangélica se recusa a vender. Essa disputa ocasionou o esfaqueamento de dois membros da igreja em 3 de abril do ano passado, quando protestavam contra a tentativa do governo de retirar a escola cristã do local. Um deles, Younan Abdullah, não resistiu aos ferimentos.
Atualmente, dos 40 acusados de violência, apenas cinco foram absolvidos. São eles Yahaya Abdulraheem, Zakaria Ismail, Idris Harris, Paulos Tutu e Salim Hassan. Os demais 35 cristãos acusados injustamente serão julgados no próximo dia 26.
Ocupando o 4º lugar na Lista Mundial de perseguição religiosa em 2018, segundo a organização Portas Abertas, o Sudão parece estar entrando em um processo de “islamização” das suas leis, o que preocupa a comunidade internacional, uma vez que isso pode significar um quadro de intolerância e violência ainda mais grave contra às minorias religiosas do país:
“O governo do norte do Sudão disse que, se o sul se separar, vamos islamizar fortemente a legislação e as práticas do governo no norte. E desde então, houve de fato uma série de pressões sobre as igrejas ”, explica Daniel Hoffman, diretor executivo da Middle East Concern para à Mission Network News, uma das entidades internacionais que acompanham a situação no país.