O candidato derrotado nas eleições presidenciais Fernando Haddad (PT) reiterou a intenção de seu partido de aprofundar sua penetração no meio evangélico para retomar a hegemonia da esquerda no Brasil, repetindo a visão de outro estrategista petista, o ex-ministro Gilberto de Carvalho, que em 2012 revelou que a meta era disputar a formação de opinião com as igrejas.
A derrota do PT em duas eleições seguidas – de 3º maior partido em número de prefeitos em 2012, o PT caiu para a 10º colocação; e a falha na tentativa de eleger Lula, e posteriormente, Haddad, em 2018 – está sendo analisada pelos militantes do partido como uma situação que obriga a reinvenção da forma como aborda o eleitorado.
Haddad concedeu uma entrevista à jornalista Mônica Bergamo e afirmou que tem convicção de que o PT venceria as eleições caso Lula não estivesse preso devido a uma condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, e que agora, o partido precisa recuperar o voto dos evangélicos.
“Vamos ser claros: eu ganhei entre os negros, as mulheres e os muito pobres. Depois de tudo o que aconteceu, quase tivemos a quinta vitória consecutiva. Com Lula, venceríamos. Mas teve o desgaste do PT. Desde as jornadas [de protestos] de 2013 até 2018, o antipetismo, que sempre existiu, cresceu”, contextualizou Haddad.
“Há estudos mostrando que, se eu tivesse no mundo evangélico o mesmo percentual de votos que tive no mundo não evangélico, eu teria ganho a eleição”, queixou-se o candidato derrotado.
Essa derrota, no entanto, é vista por Haddad como uma situação em que o partido será obrigado a usar uma embalagem que agrade ao público evangélico no futuro, apesar de manter suas diretrizes de filosofia esquerdista. Uma demonstração disso é a forma como o ex-ministro da Educação se refere ao conservadorismo: “pauta regressiva”.
“A pauta regressiva afeta esse mundo de forma importante. Há um fenômeno evangélico sobre o qual temos que nos debruçar. Não podemos dar de barato que essas pessoas estão perdidas. A Ética Protestante e o Espírito Capitalista é um clássico do Max Weber. A gente deveria pensar na ‘Ética Neopentecostal e o Espírito do Neoliberalismo’”, afirmou Haddad.
Na entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Fernando Haddad declara com todas as letras que pretende aplicar ao segmento evangélico a mesma estratégia usada entre os católicos décadas atrás, quando estruturou-se uma compreensão filosófica chamada “teologia da libertação”, que influenciou a cosmovisão da denominação romana na América do Sul, influenciando de padres a cardeais, como é o caso de Jorge Mario Bergoglio, eleito para o pontificado sob o título de Francisco.
“Assim como no final da ditadura foi possível abrir um canal de diálogo com a Igreja Católica, a esquerda tem agora o desafio de abrir um canal com a igreja evangélica, respeitando suas crenças”, disse Haddad, expondo o plano de turbinar a versão evangélica da “teologia da libertação”, que vem sendo liderada por Ariovaldo Ramos – apelidado pela própria Folha como “pastor petista” e um dos apoiadores do PT nas eleições – sob o título de “teologia da missão integral”, que ascendeu no país após a convocação de Carvalho para que a militância se infiltrasse nas igrejas e agisse no sentido de formar opiniões simpáticas à filosofia de esquerda.
Haddad deixa transparecer na entrevista que o propósito é derrotar o conservadorismo: “Essa pauta mobiliza as pessoas criando inclusive ficções. Eu permaneci à frente do MEC por oito anos. As expressões ‘ideologia de gênero’ e ‘escola sem partido’ não existiam. Era uma agenda de ninguém. Ela foi criada, ou importada, como um espantalho para mobilizar mentes e corações”, disse, mais uma vez, rejeitando a compreensão do segmento evangélico sobre os temas.