A dinâmica familiar chamada “Amorprazol”, criada pelo pastor Josué Gonçalves, é uma espécie de jogo que usando “princípios bíblicos ativos”, promete restaurar a paz em casamentos em crise.
O material de aconselhamento disfarçado de remédio sugere ações aos cônjuges e pede sigilo. Semanalmente, marido e mulher devem retirar da “comprimido”, ler o conteúdo e, sem revelar qual a tarefa, deve executar o desafio.
Abraço, beijo, diálogo, elogio, lazer, oração, leitura da Bíblia, presente, serviço e surpresa são os desafios contidos nos comprimidos. Antes da rodada seguinte, o casal deve descobrir qual havia sido o desafio do cônjuge durante aquela semana.
No entanto, a dinâmica que promete evitar divórcios e restaurar o equilíbrio entre o casal não deve ser encarada como a única medida de terapia familiar, segundo a psicoterapeuta Silvana Rangel.
“Acredito que toda interação entre a família proporciona pequenas mudanças, mas prometer a revolução do amor é algo muito complicado. Se todos os dias o familiar te dá um abraço, um beijo, vai provocar uma mudança positiva, claro. Porém, temporária”, observou.
Na entrevista ao iG, a especialista em relacionamentos afirma que o “Amorprazol” precisa ser usado com a concordância dos cônjuges, pois a interação sem autorreflexão dos sentimentos pode resultar em frustração.
“O ponto delicado é ligar a religião com essa prática psicológica. Ao final a pessoa ainda pode acabar com o pensamento: ‘Deus não me ama’ ou ‘não sou merecedor’”, disse Silvana Rangel.
Para a profissional, “executar ações repetitivas por um curto período de tempo significa jogar todos os problemas da família para debaixo do tapete”.
Silvana acredita que, apesar da boa intenção da dinâmica, “não existe milagre”, e por isso, o “Amorprazol” deve ser considerado um primeiro passo rumo à paz familiar: “A reconstrução do ambiente familiar exige muito mais do que esforços semanais”, concluiu, sugerindo que os casais em crise busquem ajuda de especialistas.