A situação de cristãos em dois países africanos vêm se tornando cada vez mais perigosa, com entidades que monitoram a questão da perseguição religiosa emitindo alertas a respeito. A Missão Portas Abertas recentemente fez um relato sobre ataques extremistas no Congo e Moçambique.
Os atentados, promovidos por vertentes do Estado Islâmico, registraram um “aumento alarmante” segundo a entidade missionária. A região nordeste da República Democrática do Congo vem sendo alvo de ações terroristas, que deixaram centenas de vítimas e obrigaram 40 mil pessoas a fugirem da área, apenas no primeiro trimestre de 2021.
A própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece que os militantes da organização paramilitar Forças Democráticas Aliadas (ADF na sigla em inglês) “mataram quase 200 pessoas, feriram dezenas de outras e deslocaram cerca de 40 mil pessoas no Território Beni na província de Kivu do Norte, bem como nas aldeias vizinhas em Ituri província”, em 2021, nas palavras do porta-voz Babar Baloch.
Casos recentes, registrados nas últimas semanas, resultaram na morte de pelo menos 44 civis nos vilarejos das províncias de Ituri e Kivu do Norte.
Essa escalada de violência seria resultado, de acordo com pesquisadores da situação de liberdade religiosa no país, após uma ofensiva do exército congolês contra a ADF em outubro de 2019.
“Os líderes da Igreja de Cristo no Congo, uma rede de igrejas evangélicas no país, apelaram ao presidente Felix Tshisekedi para ver a situação da segurança na parte oriental do país, para pôr fim aos massacres e violência. A ADF vêm atacando comunidades há décadas, incluindo matando e sequestrando cristãos, e treinando e enviando jihadistas para outros países da África”, contextualizou a Portas Abertas.
A ADF se tornou uma espécie de filial do Estado Islâmico e atua para impor um califado no nordeste do Congo. Em 12 de março último, o grupo libertou 12 reféns perto da cidade de Ndalya, província de Ituri, e os incumbiu de levar uma mensagem às autoridades e à população: “Convertam-se imediatamente ao islã e evite práticas que irritam Alá. Parem as operações militares contra nós se quiserem ser poupados da nossa vingança”.
Divisão em Moçambique
O caso do país lusófono é apontado por especialistas em Direitos Humanos e liberdade religiosa mundiais como preocupante, já que o surgimento de um grupo islâmico em Moçambique denominado Ansar al-Sunna tornou a situação mais complexa.
Oriundo da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, o grupo iniciou suas ações em 2017, mas começou a se tornar mais ativo em 2020, com um aumento significativo no número de ataques e o uso de armas mais sofisticadas.
Na conta do Ansar Al-Suna, até agora, estão as mortes de mais de 2 mil vítimas, enquanto se estima que o total de pessoas obrigadas a fugirem de suas casas gire em torno de 1 milhão.
O Estado Islâmico também está ligado ao Ansar Al-Sunna, e impulsionou os extremistas de Moçambique a perseguirem os cristãos locais, que passaram a ser alvo de assassinatos, arrastões e destruição de igrejas, apontou um relatório da Missão Portas Abertas sobre a insurgência islâmica em Moçambique.
“A República Democrática do Congo ocupa a 40ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2021 e é a primeira vez que o país se encontra entre os 50 países que mais perseguem cristãos no mundo. Já Moçambique, 45º da Lista, já configurou no documento e após muitos anos, volta como um dos países mais hostis ao cristianismo no mundo”, delineia o comunicado da entidade.
A Portas Abertas atua nos dois países por meio de parceiros locais. Em 2020 foi retomado o trabalho de fortalecimento dos cristãos em Moçambique, com treinamento e fornecimento de ajuda humanitária. Já no Congo, a organização oferece ajuda humanitária, socioeconômica e espiritual para que os cristãos “permaneçam firmes em sua fé em Jesus”.