Quando a perseguição motivada por questões religiosas não é o principal instrumento de ataque contra os cristãos, conflitos de natureza política também são usados para oprimir os seguidores de Jesus Cristo. Este é o caso de países como a Etiópia, onde a intolerância à fé e os interesses ideológicos se misturam em um cenário de conflito que já dura décadas.
Na Etiópia, cerca de 80 etnias diferentes estão em conflito no país, em boa parte por questão de território e recursos naturais. Como resultado, membros das diferentes etnias são vistos como inimigos uns dos outros, de modo que ataques aos seus territórios, incluindo propriedades privadas, são praticados.
Desde julho do ano passado, por exemplo, 30 igrejas foram atacadas e 100 pessoas foram mortas. Desse total, 18 templos foram totalmente destruídos, após serem incendiados, segundo Tewodros Tirfe, presidente da Amhara Association of America.
Quando o primeiro-ministro Abiy assumiu o cargo em abril desse ano, muitos viram na sua figura a esperança de que os conflitos fossem acalmados, mas os resultados não saíram como o esperado.
“O que aconteceu quando Abiy chegou ao poder é apenas esse alívio catártico de frustrações de todos os tipos de comunidades: religiosas, étnicas, políticas. Às pessoas finalmente conseguiram falar”, disse Felix Horne, pesquisador sênior da Human Rights Watch.
Contudo, a desavença étnica envolvendo os diferentes povos ainda permanece muito enraizada na cultura etíope, de modo que mesmo com os esforços de paz, os ataques ainda são constantes.
“As pessoas confiam em suas etnias e vão matá-lo ou matá-lo pelo motivo de você não pertencer às suas tribos”, disse o Rev. Nehemiah Getu, sacerdote ortodoxo etíope de Maryland, ao Washington Examiner.
Protestos
Foi em razão disso que milhares de cristãos etíopes saíram às ruas no último domingo (22), em 43 cidades diferentes, para protestar contra os ataques, especialmente os incêndios nas igrejas e números de mortos.
A intenção é mobilizar o governo e chamar atenção internacional para o conflito que já assola a Etiópia desde o século passado. Contudo, o número de motivos diferentes envolvendo a manutenção da guerra civil continua sendo a maior dificuldade para um acordo de paz duradouro.
“O conflito está ocorrendo por diferentes razões e envolveu grupos diferentes, então você não pode caracterizá-lo de uma maneira simples”, concluiu William Davison, analista sênior do International Crisis Group, um grupo sem fins lucrativos que trabalha para impedir guerras, segundo o Whashington Examiner.