Uma manifestação de torcidas que terminou em violência no último domingo, 31 de maio, realizada na avenida Paulista, teve como um dos organizadores um jovem estudante da Universidade de São Paulo (USP) que é filiado ao PSOL e à organizada Gaviões da Fiel. Ele também se apresenta como evangélico.
Danilo Pássaro, teólogo e estudante de História na USP, afirmou que sua mobilização ao reunir as torcidas organizadas tinha como objetivo defender a democracia, mas não contava com apoio institucional do PSOL ou da Gaviões da Fiel.
A manifestação, que trazia bandeiras contra o fascismo e neofascismo, foi marcada pelo uso de camisas pretas, da mesma forma como usavam os apoiadores do ditador italiano Benito Mussolini, conhecido como o líder do fascismo em seu país.
Em entrevista ao jornal O Globo, Danilo Pássaro afirmou que a manifestação teve participação de “coletivos autônomos de torcedores” que se identificam como “antifas”.
“É um movimento que se organizou de forma autônoma. Não é endossado oficialmente pela torcida: são torcedores que se conhecem do estádio, que vêm acompanhando o movimento do país, agressões de jornalistas, ridicularizando as mortes pelo Covid. Isso foi causando revolta na gente e decidimos que deveríamos assumir esse risco. Somos a favor do isolamento social mas não podíamos ficar quietos”, comentou Pássaro.
Assumindo sua adesão ao progressismo, o aluno da USP diz que interpreta a Bíblia Sagrada a partir do viés de sua ideologia: “Sou da Brasilândia, mas tive uma formação progressista que vem desde criança. Fui criado na igreja evangélica, fiz faculdade de Teologia. A partir da leitura da Bíblia sempre tive um viés político mais para esse lado progressista”.
Danilo Pássaro, em tese, admite a participação de pessoas que discordam do progressismo: “Eu até entendo as pessoas que criticam, é complicado. Tem muitas pessoas que não percebem que essas atitudes podem desembocar numa ditadura e por isso criticam o nosso ato. Mas é um ato que tem uma única bandeira, que é a bandeira da democracia, um ato que é para todos, que estão atentos a um processo de rompimento da democracia. Se [esses grupos] estão pela democracia, têm que participar. O governo tem testado a elasticidade da nossa democracia. No momento, está sendo travada uma disputa de narrativas e a única narrativa colocada na rua era a deles. Sentimos a necessidade de, apesar da pandemia, mostrarmos que somos maioria”.
O movimento
Nas redes sociais, as páginas desses grupos têm milhares de seguidores, como a “Palmeiras Antifascista”, com 28 mil seguidores no Facebook; a “Corinthians Antifascista”, com 19 mil seguidores ; e “Santos Antifascista”, com 16 mil seguidores.
A tentativa de pregar rótulo de fascista em cidadãos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro ou suas bandeiras conservadoras é um capítulo a mais nas ações de oposição. Em setembro de 2018, a Gaviões da Fiel publicou um texto nas redes sociais assinado por seu presidente, Rodrigo Tapia, dizendo que “Gaviões não vota em Bolsonaro”.
Um dia antes das manifestações na avenida Paulista, a Mancha Verde fez publicação declarando-se apolítica, embora não aceite ideologias políticas com pregações de supremacia de raças, incluindo “ideais nazistas” e “atitudes fascistas”.
No dia da manifestação, após o tumulto entre o grupo de torcedores e apoiadores de Bolsonaro, a torcida Dragões da Real, que reúne torcedores do São Paulo, posicionou-se dizendo que “não determinará o que seus sócios devem ser ou acreditar”, rejeitando “nazis, fascistas ou racistas”, mas enfatizando que cada integrante tem liberdade para escolher seu voto e seu lado.
Fascismo
Os livros de história descrevem o movimento fascista, ocorrido na Itália simultaneamente à ascensão do nazismo na Alemanha, como um pensamento em que toda organização na sociedade deveria ser para o Estado, com nada contra o Estado ou fora do Estado, conforme o próprio Mussolini pregava.
Recentemente, o ex-presidente Lula (PT) comemorou a pandemia de Covid-19 como uma oportunidade para que as pessoas saibam que “apenas o Estado é capaz de dar a solução a determinadas crises”.
No regime fascista, até mesmo a religião é rejeitada, uma vez que o alvo das pessoas de fé, independente de sua crença, é uma divindade espiritual. O fascismo, portanto, cobra até mesmo a fé das pessoas no Estado. Acompanhado disso vem a estatização de empresas, centralização do poder, controle da economia, censura e limitação dos direitos individuais.
Valores conservadores e liberais clássicos se opõem justamente a isso, na defesa de bandeiras como a liberdade de expressão e religiosa, livre mercado, democracia multipartidária, imprensa livre e um Estado enxuto, provendo educação formal, saúde pública e segurança.