Gilberto Carvalho, 67 anos, ex-ministro do governo Dilma Rousseff e um dos principais estrategistas do Partido dos Trabalhadores, afirmou que a legenda precisa “visitar seus demônios” após a derrota acachapante nas urnas em 2018.
O ex-ministro – que ficou conhecido no meio evangélico por articular um movimento de esquerda no seio das igrejas, como forma de fazer o PT disputar a formação de opinião com as lideranças religiosas – admitiu que as urnas trouxeram um recado claro de rejeição à corrupção.
“A nossa convivência com a política tradicional, o financiamento empresarial de campanha, junto com isso veio corrupção, na forma de arrecadar dinheiro para campanha, até em alguns casos o enriquecimento de algumas pessoas, embora muito poucas, mas teve. Isso, sim, a gente tem que encarar, que eu chamo de a gente visitar os nossos demônios”, afirmou Carvalho, em entrevista à BBC Brasil.
Questionado sobre as lições que o PT tira da vitória de Jair Bolsonaro (PSL), Carvalho disse que “nós vamos levar um tempinho para digerir por conta da mudança profunda da natureza que se deu o processo eleitoral”, com o povo rejeitando a dinâmica que a esquerda sempre propôs.
“Para nosso aprendizado e da democracia, a gente precisa aprofundar um pouco mais qual é a natureza desse processo que levou as pessoas a mandar esse recado. Porque, aparentemente, é um recado de aprovação de uma candidatura que se afirma forte, que afirma que vai resolver todos os problemas, que autoriza a violência, a discriminação racial, de orientação sexual etc. e tal. Quer dizer, é uma viragem muito brusca naquilo que tem sido o recado político e as mensagens que a gente recebe”, disse o petista.
Em seguida, Gilberto Carvalho afirmou que Bolsonaro foi eleito com a ajuda da “manipulação religiosa terrível no caso do Magno Malta” e que o PT já estuda uma resposta a isso: “De fato precisamos fortemente retomar contato com a nossa base, a periferia, com aqueles que foram beneficiários da nossa política social, acho que não foram conscientizados da natureza desses benefícios sociais, do que era nosso projeto”.
Mais adiante, Carvalho admite que o PT que existiu até 2015, hegemônico, não existe mais: “[Temos que] deixar a arrogância de lado e ter a humildade de reconhecer que essa primavera de novas energias que surgiram, sobretudo no segundo turno, não querem se enquadrar dentro de um partido e não querem ser hegemonizadas por um partido”.
Ao final, disse acreditar que Bolsonaro irá frustrar seus eleitores: “Esse processo eleitoral me lembra muito Collor [presidente eleito] em 1989, pelas categorias manejadas, e acho que o futuro desse governo pode ter um destino, não vou dizer igual, mas semelhante ao do Collor, no sentido de uma grande promessa rapidamente frustrada […] Eu não quero falar de impeachment. Não podemos funcionar como aqueles que querem um inferno para o País. Não cabe a nós desejar o pior, pois quem sofre muito é o povo pobre. Nós temos que ter responsabilidade. Cabe a nós fiscalizar, vigiar, alertar e buscar conscientizar a população daquilo que for acontecendo”, pregou.