O pastor Marco Feliciano foi anunciado pelo PSC como candidato do partido à prefeitura de São Paulo, para concorrer contra o atual prefeito, Fernando Haddad (PT) e, provavelmente, uma série de outros políticos inusitados, como os apresentadores de TV José Luiz Datena (ainda sem partido) da Band; Celso Russomano (PRB), deputado federal e apresentador da TV Record; e João Dória Jr. (PSDB), empresário; além da ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (PMDB).
Em entrevista concedida à revista Veja SP, Feliciano afirmou que achou que fosse “brincadeira” o convite do PSC para a candidatura à prefeitura de São Paulo, mas aceitou porque a “oportunidade de ser prefeito de uma das dez maiores metrópoles do mundo é única”
Como não poderia ser diferente, o pastor disparou críticas à atual gestão: “Todos sabem dos problemas de eficiência administrativa da cidade. O prefeito deixou muito a desejar. É um poste, mas um poste sem luz”.
Questionado sobre sua relação com a cidade, já que nasceu em Orlândia, no interior, Feliciano revelou que vive na capital nos dias de semana: “Moro em Santa Cecília [bairro da região central], estou na capital pelo menos uma vez por semana. Uma vez peguei aquela Avenida Sapopemba (na Zona Leste), imensa, e fui até o final dela. Vi um submundo. Vi um mundo que não parece ser São Paulo, um lugar abandonado, rejeitado. Isso não pode acontecer, tem algo errado. Quero abraçar São Paulo como um pastor e cuidar das mazelas da periferia. Um prefeito tem que acordar às 4h da manhã e ir para o metrô ouvir a população”, afirmou.
Sobre o programa social criado pela prefeitura para ressocializar dependentes químicos que vivem na cracolândia, o pastor não fugiu do assunto e criticou a forma como as coisas vêm sendo feitas: “A intenção é até boa, mas o inferno está cheio de gente bem intencionada. Não é assim que se resolve. O mesmo partido do prefeito quer descriminalizar as drogas e abrir uma ruptura sem tamanho, criar um monte de mini-traficantes. Existem outras medidas de reinserção na sociedade, como a internação em clínicas, mas 90% das entidades que recuperam drogados são vinculadas à igreja e o PT odeia a igreja, odeia tudo que faz parte da fé”, disse Feliciano.
Esse “ódio” do PT à igreja, segundo ele, resulta em políticas sociais equivocadas e absurdas: “Em nome de um estado laico, eles acabam desgraçando a vida das pessoas e depois querem colocar dinheiro do contribuinte na mão desses meninos, que vão comprar mais crack. Com isso, aceleram a morte dessas crianças. Deve ser essa a intenção, eliminar de vez os zumbis nas ruas de São Paulo. O cracudo e a cracolândia têm que ser tratados de perto, com o coração”, sugeriu.
Sobre o programa de Haddad apelidado de “bolsa-travesti”, que dá R$ 840 para transexuais, Feliciano contrapôs a ideia questionando a falta de assistência às famílias que perdem entes para a violência: “É complicado. Será que fazendo isso você não estimula pessoas a se transformarem para que vivam debaixo da mão do governo? Sou contra preconceitos, mas quantos pais de família estão desempregados e não recebem nada? O governo cria bolsa-travesti e dá auxílio-reclusão para o preso que mata, enquanto a família de quem morreu não tem nem ajuda psicológica”, pontuou.
Sobre a Parada Gay, Feliciano criticou o evento, mas destacou que não descumprirá a lei e não criará dificuldades para que os homossexuais se reúnam: “A marcha perdeu sua vontade de mudança, transformou-se em um Carnaval fora de época. Todos os grupos podem buscar seus direitos, inclusive os minoritários, que sofrem preconceitos. Não sou contra, mas tem grupo que não quer direito, quer privilégio. Agora, não posso impedir um evento que é cultural e está na lei. Além disso, um pastor não olha ovelha com defeito, ovelha diferente, não faz distinção entre a cor da lã. Um pastor ama todas as ovelhas”, afirmou, em tom conciliador.
Se eleito, Feliciano acredita que vai se tornar uma espécie de herói para o cidadão paulistano: “Não vou governar para crentes, nem para católicos, nem para budistas, e sim para todos. Vou ser o pastor da cidade. Sei que não sou unanimidade entre os evangélicos, mas tenho o carinho deles, tanto é que tive quase 400 000 votos para deputado federal em São Paulo. Mas, resumindo, diria que se eu conseguisse acabar com metade do que o PT fez em São Paulo, acho que os paulistanos iriam erguer uma estátua minha na Praça da Sé”, concluiu.