Em sua participação no programa De Frente com Gabi, o pastor Silas Malafaia usou alguns dados de pesquisas científicas como argumento para defender sua postura sobre as questões da homossexualidade.
No “debate” com a jornalista Marília Gabriela, Malafaia mencionou um estudo de genética, o que provocou uma resposta de Eli Vieira, um biólogo mestre em genética e doutorando na área, que trabalhou na Liga Humanista e é ateu militante.
O vídeo divulgado por Eli Vieira com suas considerações a respeito das declarações de Silas Malafaia sobre o assunto superou um milhão de visualizações no Youtube.
Silas Malafaia respondeu dizendo que Eli parecia “estar defendendo a sua causa na questão da homossexualidade” e que o argumento usado pelo doutorando era “suposição científica, sem prova real, e tremendamente questionada pela própria Genética”.
Na última terça-feira, Eli Vieira voltou ao tema e publicou, em sua página no Facebook, uma tréplica, reafirmando sua postura inicial.
“Eu não vou responder a ataques pessoais. Só mostram como o Golias do televangelismo não sabe o que é debate, pois em vez de endereçar refutações a minhas fontes e ideias, tenta me desqualificar como pessoa”, escreveu Eli.
O geneticista ainda ressaltou que sua manifestação em vídeo contra as declarações de Silas Malafaia não foram voltadas a ele enquanto pastor, e sim, uma marcação de posição quanto a área de sua formação: “O que fiz foi proteger minha área de atuação profissional de uma calúnia pública proferida por um leigo”.
Eli ainda revelou ter recebido apoio de outros profissionais da área por sua manifestação: “Está circulando entre geneticistas uma carta aberta de apoio aos meus argumentos. Alguns grandes já assinaram”.
Confira abaixo, a íntegra das publicações de Eli Vieira em sua página no Facebook:
Malafaia me respondeu citando exatamente o mesmo autor, que distorceu, como eu mostrei, um estudo que não diz, como Malafaia disse na TV, que 54% dos homossexuais escolhem ser homossexuais.
Eu não vou responder a ataques pessoais. Só mostram como o Golias do televangelismo não sabe o que é debate, pois em vez de endereçar refutações a minhas fontes e ideias, tenta me desqualificar como pessoa.
Minhas fontes estão todas na descrição do meu vídeo, e são apenas uma amostra do que já se sabe. Enquanto Malafaia cita um único autor que distorceu um ou dois estudos, só uma das minha referências vem diretamente de um manual de profissionais da área, e a revisão citada utiliza mais de 50 fontes em periódicos científicos revistos por pares.
Eu não disse em momento algum que sou doutor, mas que faço doutorado. Então como posso ser um “pseudo-doutor”? O que está havendo de “pseudo” aqui é a pseudoinformação científica do leigo em genética Silas Malafaia.
Quem está dizendo que a genética é irrelevante para a questão da promoção da igualdade das pessoas independente de orientação sexual e identidade de gênero TEM RAZÃO.
O que fiz foi proteger minha área de atuação profissional de uma calúnia pública proferida por um leigo.
Não é por acaso que pensadores tão grandes quanto David Hume e Immanuel Kant convergiram em separar o que são “questões de fato” do que são “questões de direito”. Separar “é” de “deve ser”. E eu estou falando apenas da primeira categoria.
Os colegas acadêmicos que me atacam apenas por ser geneticista estão presumindo demais. Saibam que somos aliados contra o obscurantismo teocrático que tolhe direitos e esmaga vidas.
Está circulando entre geneticistas uma carta aberta de apoio aos meus argumentos. Alguns grandes já assinaram
Quem é o geneticista Eli Vieira?
Eli Vieira é estudante de doutorado (PhD) na University of Cambridge, no Reino Unido com atuações em estudos sobre Evolução Molecular, Genética Quantitativa e Ensino de Evolução. Ele é um militante ateu, humanista e defensor do evolucionismo. Em um recente podcast ateu ele afirmou que é possível que “Jesus aplica um certo tipo de emplastro de ervas medicinais, pra ajudar num milagre, numa cura. É muito irônico (…) que o próprio Jesus Cristo utilizou na narrativa bíblica a maconha como erva medicinal”, disse.
Eli também credita ao Cristianismo a legalização de bebidas alcóolicas no Brasil. “Me parece que o único motivo pelo qual o álcool é legal no Brasil, um dos motivos políticos é que simplesmente o cristianismo é dominante, e a religião dos Citas não teve esse privilégio de dominar e convencer um líder do Império Romano a adotar uma religião e forçá-la ao resto da população”, disse ele no mesmo podcast.
Após a publicação do vídeo onde rebate as afirmações do pastor Silas Malafaia ele recebeu grande apoio do deputado gay Jean Wyllys, que o chamou de companheiro na Liga Humanista Secular do Brasil.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+